A divulgação do levantamento da Paraná Pesquisas apontando que Sérgio Moro teria cerca de 11% das intenções de voto numa corrida eleitoral pela presidência da República é surpreendente.
A principal surpresa vem do fato de que o ex-juiz tem um número considerável de votos mesmo não tendo profundidade alguma para falar de assuntos que não sejam o combate à corrupção, tema pelo qual ficou conhecido enquanto era magistrado. A coluna apurou que, nos bastidores, muitas pessoas estão impressionadas com a falta de habilidade do ex-juiz para falar de outros temas.
Moro não tem horizonte. Ele fala apenas das coisas que sempre estudou. Em relação a outros assuntos importantes para o país e fundamentais para um presidente, Moro escorrega. E as falhas são ainda mais claras quando é feita uma análise de seu trabalho como Ministro da Justiça do atual governo. Nesse ponto, além de ter deixado de lado diversos assuntos, Moro ainda entrou em várias contradições.
Enquanto chefiava a pasta, o ex-juiz tentou se livrar da Funai de todas as formas por não ter capacidade de pensar numa boa política indigenista. O assunto, no entanto, tem várias implicações, não apenas do ponto de vista humano mas também em relação ao impacto que possui em questões econômicas e ambientais.
Em outro episódio negativo, Moro passou a mão na cabeça dos policiais militares que fizeram uma rebelião no Ceará no início de 2020. O então ministrou aceitou uma situação que uma autoridade pública que pensa a segurança não pode aceitar. Os PMs quebraram regras e Moro simplesmente deixou passar. Ele obedeceu o governo e falhou.
Por falar em obediência ao governo, a decisão de ser ministro de Bolsonaro colocou Moro numa posição de contradição que não pode ser esquecida. No último final de semana, em uma publicação que já mostra seu lado eleitoreiro, Moro usou o Twitter para criticar o PT e o ex-presidente Lula.
“Antes, o PT elogiou as eleições na Nicarágua, onde os opositores foram presos. Agora, é o Lula quem minimiza a repressão contra protestos na ditadura cubana e critica os Estados Unidos, uma democracia. Não dá para flertar com o autoritarismo”, escreveu.
As palavras poderiam ter alguma credibilidade se Moro não tivesse trabalhado justamente com Jair Bolsonaro, conhecido por defender ditaduras, a tortura e por condenar a liberdade da imprensa. O ex-juiz também escorrega quando o tema é economia.
Como esta coluna comentou, Moro terá uma luta difícil pela frente. Além de tentar tirar votos de Bolsonaro e de enfrentar Lula, o provável candidato terá que assumir suas contradições e mostrar que sabe falar sobre outros assuntos que não sejam ligados ao que fez na Operação Lava Jato.