O governo não se entende. Na última trapalhada envolvendo integrantes da equipe do presidente Jair Bolsonaro, a “vítima” foi o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).
No início da semana, Bolsonaro admitiu que agora as questões do Enem “começam a ter a cara do governo”. A declaração foi dada em meio a denúncias de assédio moral e interferência política no Inep, responsável pelo exame.
No dia seguinte, o ministro da Educação, Milton Ribeiro, negou interferências no exame. “A ideia de que houve interferência é uma narrativa de quem quer politizar a educação. A educação não tem partido”, disse o ministro.
A história toda é uma maluquice. Bolsonaro trava uma guerra ideológica desde que assumiu o mandato e nunca escondeu de ninguém que quer mexer na educação par usá-la como plataforma de doutrinação. Nos bastidores, servidores afirmam que há interferência nas questões do Enem, inclusive com pedidos de mudança de algumas perguntas, que foram consideradas “sensíveis”.
A aparição do Ministro da Educação tentando desmentir o que o presidente admitiu que houve só piora a situação. Ao dizer que a ideia de interferência é uma narrativa de quem quer politizar a educação, Milton Ribeiro está dizendo, na verdade, que o próprio presidente da República quer politizar a educação, já que não há dúvidas da interferência nas provas.
Seria melhor que Milton Ribeiro ficasse em silêncio. Além de tentar desmentir seu chefe apenas um dia após uma declaração clara, o ministro ainda admite o pior que há neste governo, algo que jamais deveria acontecer.
Mais uma vez, a trapalhada de integrantes da gestão Bolsonaro ofusca o que realmente deveria estar sendo discutido: como melhorar a qualidade das provas do Enem e como valorizar o exame que é a porta de entrada de milhares de jovens às universidades públicas.