O último final de semana ficou marcado na política brasileira, entre outras coisas, pela “bola fora” de Jair Bolsonaro em relação ao próximo 7 de setembro e o “gol” de Lula sobre o mesmo Dia da Independência.
Enquanto ao oficializar sua candidatura, o presidente “convocou todos às ruas pela última vez” no 7 de setembro, trazendo um sentimento aos bolsonaristas de Dia D partidário para um momento que deveria ser de festa num feriado nacional, o petista sugeriu que os movimentos sociais e seus apoiadores não meçam forças nas ruas contra o bolsonarismo no Dia da Independência.
Como opinado pela coluna neste domingo, 24, a ideia de Lula, revelada pelo senador Randolfe Rodrigues à Folha, pode evitar um banho de sangue no dia em que todos nós, brasileiros, deveríamos comemorar juntos os 200 anos da Independência. Não é qualquer data: são dois séculos.
Mas, diante de uma polarização odiosa atiçada pelo presidente da República, será impossível que aconteça, ainda mais em um período eleitoral tão conturbado.
Hoje temos a noção de que o “nós e eles” inventado pelo petista, enquanto o PT polarizava com o PSDB durante anos, não era perfeito, mas muito mais saudável, se comparado com o nível elevado de ódio que Bolsonaro trouxe para a política brasileira.
Naquela época, não havia um fanático entrando em uma festa de aniversário matando a tiros um dirigente petista aos gritos de “aqui é Bolsonaro”. Ou havia?
Vejam como o presidente tratou a convocação para o Dia da Independência: “Convoco todos vocês agora para que todo mundo, no 7 de setembro, vá às ruas pela última vez. Vamos às ruas pela última vez.” Depois, acrescentou uma crítica velada ao Supremo Tribunal Federal: “Estes poucos surdos de capa preta têm que entender a voz do povo”.
Enquanto isso, Randolfe, um dos mais importantes coordenadores da campanha de Lula, afirmou que por uma iniciativa do ex-presidente, a ideia é fazer algo diferente da proclamação ao ódio que o Bolsonaro fará. “Não queremos entrar na disputa e nas provocações”, disse, apontando para que as manifestações de apoiadores lulistas sejam no dia 10.
Afora a diferença de tom, o atual presidente da República ainda carrega com ele o peso dos ideários golpistas que trouxe à nação quando insuflou a massa de apoiadores contra o STF no 7 de setembro passado, gerando uma das mais fortes crises institucionais que o país viveu desde a redemocratização.
É lamentável que o Brasil viva de forma tão dividida o marco de 200 anos da Independência. Mas, não é uma surpresa com Bolsonaro à frente do Executivo, político que usa de forma violenta o que é conhecido na sociologia por “dividir para conquistar”. Ao contrário: é o preço que se paga pela eleição de um extremista de direita para o mais alto cargo da República.