Nada foi pior para a democracia brasileira nos últimos anos do que os arroubos autoritários e golpistas de Jair Bolsonaro. No entanto, isso não significa que é preciso fazer vistas grossas ou aplaudir a avacalhação promovida por setores da gestão petista no governo federal.
O Concurso Nacional Unificado (CNU), maior concurso do Brasil, é uma prova disso.
Historicamente, concursos públicos no Brasil têm como premissa básica o cumprimento rigoroso de normas. Preencher corretamente o gabarito é uma dessas regras simples, mas cruciais. No entanto, o governo federal, por meio da Advocacia-Geral da União (AGU), optou por desconsiderar essa exigência.
Um acordo anunciado na manhã desta quinta-feira, 21, permite que candidatos que não identificaram o tipo de prova no cartão-resposta sejam beneficiados.
Essa decisão, impulsionada por uma ação do Ministério Público Federal (MPF), cria um beneficio para candidatos desatentos. Quem deixou de seguir uma orientação básica do edital agora se junta aos aprovados, desvalorizando o esforço de quem seguiu as regras. E quem foi desatento nos inúmeros concursos e vestibulares ao longo das décadas, poderá pedir uma revisão agora que as instituições brasileiras mudaram de entendimento?
Ao flexibilizar exigências elementares, o maior concurso do país deixa de ser exemplo de organização e mérito. Em vez disso, o CNU se torna um símbolo da insegurança normativa e também emite um alerta para o descompasso entre a necessidade de eficiência no serviço público e a gestão confusa de processos fundamentais.