A absurda lista de segredos de Bolsonaro
É deboche mesmo, mas tem método. 2121 está logo ali...
O debochado presidente Jair Bolsonaro, o mesmo que fez chacota das mortes pela Covid-19 quando o país empilhava mortos, atacou de novo. Agora, em relação ao sigilo centenário – sim, leitor, 100 anos – que o mandatário decreta em relação a encontros suspeitos, seja de integrantes do seu governo, de seus familiares e dele próprio.
Nesta quarta-feira, 13, o presidente foi questionado por um internauta: “Presidente, o senhor pode me responder por que todos os assuntos espinhosos/polêmicos do seu mandato, você põe sigilo de 100 anos? Existe algo para esconder?”. Bolsonaro respondeu debochadamente: “Em 100 anos saberá”, seguido do conhecido/irônico emoji com sinal de positivo usado por ele.
É deboche mesmo. Não há outra palavra.
A mais recente dessas decisões estapafúrdias do governo envolve os registros das visitas de pastores acusados de comandar esquema de corrupção no MEC. Os dois religiosos, como se sabe, foram indicados para o serviço pelo próprio Jair Bolsonaro, segundo áudio do ex-ministro da Educação Milton Ribeiro.
Mas a lista continua, é vasta e, não se enganem, tem método.
Vamos a ela:
2 – O governo negou acesso por 100 anos ao cartão de vacinação de Bolsonaro, artífice do negacionismo científico no Brasil. Daí, a importância de saber se ele, o presidente, se vacinou ou não e quando.
Em 2121 saberemos.
3 – A gestão também impôs segredo centenário sobre as visitas dos filhos Carlos e Flávio ao Planalto, o que poderia detalhar a real influência dos dois no governo, além das movimentações sincronizadas nas redes sociais da família para espalhar fake news.
2121 está logo ali.
4 – O Exército também escondeu por um século dados do processo que apurou a participação de Eduardo Pazuello em um ato político com o presidente. À época, o general era da ativa, o que agrava o envolvimento dele com a política partidária.
Foco. 2121 não demora a chegar.
5 – O governo também impôs sigilo total para os encontros de Bolsonaro com o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, envolvido no escândalo do mensalão do PT e que hoje preside o partido do mandatário. Valdemar tem direito, claro, à indicação de cargos estratégicos e as visitas poderiam bater com as nomeações do “toma-lá-dá-cá” que Bolsonaro tanto condenava em 2018.
Enquanto o Palácio alega ser importante manter o sigilo centenário seja pela “segurança na Presidência da República”, seja pela “intimidade, vida privada, honra e imagem dos seus familiares”… o Brasil é o quê? Enganado.
Fica claro que se trata de mais um escândalo do atual governo.
É um total descalabro impor um século de segredo, além de desrespeito claro à Lei de Acesso à Informação, legislação vigente no país.
A questão pública deve ser tratada de outra forma.
No mundo inteiro está consolidado que a transparência deve caminhar lado a lado com aqueles que ocupam cargos públicos. Mas o governo Bolsonaro anda na contramão.
Óbvio. Como sempre.