A Bahia, quarto estado em número de habitantes do país e o maior do Nordeste, vive em uma incômoda posição quando o assunto é a violência: desde 2020, é a unidade da federação que encabeça o ranking de vítimas de assassinatos em números absolutos, superando localidades mais populosas como São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais.
Como mostrou reportagem de VEJA na edição desta semana, o avanço das facções criminosas pelo país, em busca de novos territórios e novas rotas de tráfico, colocou todo o Nordeste numa situação delicada: a região concentra quase a metade dos homicídios no país, embora só tenha um quarto da população. Os três estados mais violentos estão na área: além da Bahia, aparecem Pernambuco e Ceará.
A situação tem pressionado o governador da Bahia, Jerônimo Rodrigues (PT), que vê a sua popularidade sendo corroída — em Salvador, a desaprovação a seu trabalho subiu de 35%, em janeiro, para 43%, em junho, segundo o instituto Paraná Pesquisas. Isso o coloca na mira dos adversários políticos, já que ele, não só tentará a reeleição em 2026, como tenta emplacar o seu vice, Geraldo Júnior, como prefeito da capital na eleição deste ano.
Na semana que passou, o governador, em conversa com jornalistas, apontou o dedo para seu aliado, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que na eleição de 2022 obteve no estado a sua maior vitória percentual sobre Jair Bolsonaro: 72% dos baianos optaram pelo petista nas urnas.
Para Jerônimo, o avanço das facções exige uma atuação nacional. “É preciso que esse cerco (aos grupos criminosos) seja feito. Quem tem que fazer isso, a proteção nacional, é o governo federal”, disse. E acrescentou: “Eu não estou jogando a responsabilidade. Estou dizendo o seguinte: Lula, nós elegemos você, queremos essa parceria. Queremos construir isso”, disse.
Facções criminosas
Os números da violência na Bahia são todos superlativos. Só neste ano, foram 1.488 assassinatos no estado. A expansão e fragmentação do crime organizado é uma das explicações. Segundo o Ministério da Justiça, ao menos catorze facções atuam nos presídios do estado. O número é o segundo maior do país, atrás apenas do Rio Grande do Sul, que possui quinze. A Bahia foi a terceira unidade da federação com mais apreensões de fuzis neste ano (28), atrás de Rio e São Paulo. O estado ainda carrega o título de polícia mais violenta — 1.701 mortes em 2023, um quarto de todo o país.
É preciso que esse cerco (às facções) seja feito. Quem tem que fazer isso, a proteção nacional, é o governo federal. Eu não estou jogando a responsabilidade. Estou dizendo o seguinte: Lula, nós elegemos você, queremos essa parceria. Queremos construir isso”
Jerônimo Rodrigues (PT), governador da Bahia
Acuado, o governador assinou, na terça 4, a criação do Bahia Pela Paz, um programa que visa reduzir as taxas de criminalidade com ações policiais integradas com políticas sociais, de educação, cultura, emprego e saúde.
Em nota, a Secretaria da Segurança Pública da Bahia também destacou que nos últimos 17 meses investiu em 84 novas unidades para as polícias Militar e Civil, na contratação de 3.200 policiais, além de bombeiros, aeronave, 1.500 viaturas, armamentos e softwares de inteligência.
Dificuldade para Lula no Nordeste
O fato de a crise ser no Nordeste amplia a encrenca política para Lula, porque a região é um histórico reduto eleitoral petista. A derrocada da esquerda local só vai reforçar a desconfiança da população — justa, por sinal — de que esse espectro ideológico tem muitas dificuldades com a pauta.
Lula, em seu terceiro mandato, já deu sinais de que pretende entrar nesse jogo: tanto o ex-ministro da Justiça Flávio Dino quanto o atual, Ricardo Lewandowski, acenaram com a promessa de colocar o cerco às facções criminosas como prioridade de suas atuações na área.
A cobrança, ao que parece, não virá só de Jerônimo Rodrigues. O recém-chegado à região Roberto Sá, novo secretário da Segurança Pública do Ceará — ele tomou posse na segunda 3 — foi na mesma direção do governador baiano. “Os homicídios, em sua maioria, são resultado do conflito entre grupos criminosos, que têm atuação nacional e até transnacional, o que implica na necessidade de atuação integrada com forças federais e de outros países”, disse.