Não são apenas os traços físicos e o característico jeito despojado de falar: Renato Bolsonaro é mais um integrante do clã que pretende seguir os passos de Jair Bolsonaro na política. O irmão mais novo do ex-presidente oficializou na sexta-feira, 26, sua candidatura à Prefeitura de Registro, maior cidade do Vale do Ribeira, sul do estado de São Paulo. A região é um reduto da família Bolsonaro, que se instalou em Eldorado na década de 1960.
Esta não é a primeira empreitada eleitoral de Renato, mas pode-se dizer que é a mais robusta até agora. Além do irmão famoso, ele faz questão de alardear o apoio que tem do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) e de nomes importantes do PL, como o cacique Valdemar Costa Neto, a deputada federal Rosana Valle e o presidente da Assembleia Legislativa (Alesp), André do Prado — Renato trabalhou no gabinete do deputado, onde atuou como assessor parlamentar e onde, diz, começou a fazer contatos e a entender de política.
“Ele vai contar sempre com o apoio incondicional do governo de São Paulo. Vai ter aqui toda a porta aberta, vai contar com recurso, com nosso suporte”, declarou Tarcísio em vídeo divulgado em julho. “Uma pessoa que está sendo chamada agora para esse desafio, e que está absolutamente preparado para fazer um trabalho de gestão, de renovação, em prol dessa cidade”, completou o mandatário, em um gesto reservado a poucos e invejado por qualquer pré-candidato da legenda.
Por ora, no entanto, as ideias de Renato para a cidade são um tanto quanto genéricas. “Como candidato, tenho uma proposta muito simples e objetiva: de corrigir a nossa rota rumo ao desenvolvimento e à modernização. O Vale do Ribeira sofreu muito tempo pelo esquecimento e abandono. Mas agora Registro vai mostrar que tem políticos capazes e competentes”, disse em um dos vários vídeos postados em suas redes, acrescentando que pretende investir em infraestrutura, mobilidade urbana, educação, saúde e agricultura. “Tudo aquilo que o município estiver precisando”, sintetiza.
Propositalmente ou por mero descuido, a crítica às falhas da atual gestão contrasta com as alianças que estão sendo formadas: ele é apoiado pelo próprio prefeito Nilton Hirota, recém-filiado ao PL. Hirota faz parte da leva recente da revoada tucana que tomou o estado de São Paulo, com prefeitos e vereadores trocando o PSDB pelo partido de Bolsonaro.
Ao que tudo indica, Renato deverá enfrentar o ex-prefeito e ex-deputado federal Samuel Moreira (PSD), em outra incongruência que pode ficar mais latente com a intensificação da campanha. Moreira é da mesma legenda que Gilberto Kassab (PSD), poderoso articulador e aliado do governo Tarcísio de Freitas.
Possíveis dificuldades não desanimam o candidato, que deposita na força dos aliados e no cacife do partido a munição necessária para vencer a disputa. “Vamos contar muito com o apoio do nosso querido ex-presidente Jair Bolsonaro, nosso querido governador Tarcísio e uma bancada enorme de deputados federais e estaduais. Recursos não vão faltar”, promete.
Trajetória
Renato Bolsonaro, 60 anos, é um dos cinco irmãos do ex-presidente Jair Bolsonaro. Começou a trabalhar em Eldorado aos 16 anos como servente de pedreiro. De lá, seguiu para Curitiba, onde passou para a Escola Preparatória de Cadetes do Exército e chegou a capitão do Exército. Em 1994 e em 1998, concorreu a uma vaga como deputado federal. Em 2004, lançou-se como vereador em Praia Grande, na Baixada Paulista. Em 2008, 2012 e 2016 concorreu à Prefeitura de Miracatu, também no Vale do Ribeira.
Apesar de não ter sido eleito, atuou como chefe de gabinete do deputado estadual André do Prado e como chefe de gabinete da Prefeitura de Miracatu entre 2021 e 2022. Ele voltou ao cargo em 2023. Com apenas 20.000 habitantes e localizada na região do Vale do Ribeira, Miracatu passou a ser rota de investimentos federais durante o mandato de Bolsonaro. Entre 2020 e 2022, com Renato na chefia de gabinete, a cidade recebeu mais de 72 milhões de reais em investimentos da União para melhorias urbanas, como obras de recapeamento e iluminação. Em dezembro de 2023, conseguiu 600.000 reais repassados por Tarcísio de Freitas, por meio de convênios, para obras de infraestrutura.