Denunciado pelo Ministério Público do Rio de Janeiro como operador do esquema da rachadinha no gabinete do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) enquanto o filho Zero Um de Jair Bolsonaro era deputado estadual, o policial militar reformado Fabrício Queiroz, em declaração a VEJA nesta segunda-feira, 10, ratificou a versão do presidente da República para os depósitos de 27 cheques feitos por ele na conta da primeira-dama, Michelle Bolsonaro, que totalizaram cerca de 89.000 reais entre 2011 e 2016.
Queiroz foi procurado por VEJA para comentar o parecer do procurador-geral da República, Augusto Aras, que decidiu não abrir investigação contra Bolsonaro pelo caso dos cheques. O presidente é alvo de uma queixa-crime protocolada por um advogado, que o acusa do crime de peculato. Caberá ao ministro Marco Aurélio Mello, relator da ação no Supremo Tribunal Federal, decidir ou não pelo arquivamento. Queiroz, que não tem falado com jornalistas desde que deixou a prisão, em março deste ano, respondeu primeiramente que não comentaria, mas depois criticou a cobertura da imprensa ao episódio e deu aval à explicação de Bolsonaro para a origem dos depósitos.
“O presidente já falou o que era. Quando respondeu a primeira vez, ele falou o que foi. É que vocês estão de sacanagem e não falam. Ele falou ‘era isso e teve outras vezes’, acabou”, disse Queiroz a VEJA (ouça abaixo). A declaração mostra que Queiroz continua ao lado de Bolsonaro — logo após a sua prisão, em junho de 2020, chegou a se especular que ele poderia fechar uma delação premiada.
A versão de Bolsonaro para os depósitos é a de que eles foram o pagamento de um empréstimo feito ao PM reformado, homem de confiança de Flávio. “Emprestei dinheiro para ele em outras oportunidades. Nessa última agora, ele estava com um problema financeiro e uma dívida que ele tinha comigo se acumulou. Não foram 24 mil, foram 40 mil. Se o Coaf quiser retroagir um pouquinho mais, vai chegar nos 40 mil”, disse o presidente ainda em dezembro de 2018. Àquela altura, ainda antes de sua posse no Palácio do Planalto, acabava de vir a público o relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) produzido no âmbito da Operação Furna da Onça que mostrou movimentações financeiras atípicas do ex-assessor – incluindo um depósito de 24.000 reais a Michelle.
Depois da publicação do conteúdo das quebras de sigilo de Fabrício Queiroz, pela revista Crusoé, que mostravam o valor total de 89.000 reais em depósitos, Bolsonaro voltou a dizer que o dinheiro era destinado a ele, e não à primeira-dama. “Aqueles cheques do Queiroz ao longo de 10 anos foram para mim, não foram para ela. Divide aí. R$ 89 mil por 10 anos dá em torno de R$ 750 por mês. Isso é propina? Pelo amor de Deus”, afirmou o presidente em dezembro de 2020, em entrevista ao programa Brasil Urgente, da TV Bandeirantes.
Em setembro, quando questionado por um jornalista sobre os depósitos, Bolsonaro foi agressivo: “Vontade de encher a tua boca de porrada”. Queiroz chegou a ser preso, em junho do ano passado, pelas suspeitas do caso das rachadinhas. Ele foi solto pelo STF e está em liberdade depois de a prisão domiciliar ser revogada.
Ao se manifestar ao STF contra a queixa-crime que acusava o presidente, o procurador-geral da República afirmou que as “supostas relações espúrias” entre Flávio Bolsonaro e Queiroz foram alvo de denúncia na primeira instância e que “inexiste notícia” de que tenham surgido “indícios do cometimento de infrações penais pelo presidente da República”. “Os fatos noticiados, portanto, isoladamente considerados, são inidôneos, por ora, para ensejar a defagração de investigação criminal, face à ausência de lastro probatório mínimo”.