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Qual é o maior dilema do escândalo sexual do caso Melhem x Calabresa

Acusado de assédio, ex-diretor do humor da Globo prestou novo depoimento sobre o caso nesta quinta, 27

Por Sergio Ruiz Luz Atualizado em 12 abr 2024, 15h10 - Publicado em 27 abr 2023, 17h30
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  • Na tarde desta quinta, 27, Marcius Melhem, o ex-diretor do núcleo de humor da Globo, compareceu novamente à Delegacia de Atendimento à Mulher (Deam) no Rio de Janeiro para se defender de acusações de assédio sexual feitas inicialmente ali por oito mulheres (há rumores que uma delas, a atriz Suzy Pires, não estaria mais disposta a representar contra ele; procurada por VEJA para confirmar a informação, ela respondeu por meio de sua assessoria que não comentaria o caso, por se tratar de inquérito sigiloso). Melhem já havia prestado um primeiro depoimento no local em novembro de 2021 – ou seja, há mais de um ano. A pedido de sua defesa, ele voltou ao local depois que sete das supostas vítimas também estiveram por lá recentemente para prestar novos depoimentos. É pouco provável que esses movimentos mudem substancialmente os rumos da investigação, que se arrasta na Deam há mais de dois anos. Melhem não foi sequer indiciado. Igual morosidade ocorre em processo movido por Melhem na Justiça Cível de São Paulo. Trata-se de uma ação movida por ele por danos morais contra a atriz Dani Calabresa, a mais conhecida das acusadoras. O processo também completou mais de dois anos sem qualquer conclusão.

    Quando finalmente a Justiça se pronunciar sobre esse que é o maior escândalo sexual da TV brasileira nos últimos tempos, é certo que teremos um final triste para essa história. Em caso de vitória das denunciantes, ficaria evidente que, durante um longo tempo, um grupo de mulheres passou anos na maior emissora do país sendo oprimido e abusado por um chefe, com medo de retaliação. Só depois de muito tempo elas resolveram levantar a voz contra isso, num movimento interno. Alertada pelas denúncias levadas ao compliance da empresa, a Globo tomou a atitude de desligar Melhem e, na época, divulgou carta cheia de elogios à contribuição dele à emissora, afirmando que o fim do contrato havia ocorrido de comum acordo. Inconformadas, as supostas vítimas levaram o caso à imprensa e batalharam pelo cancelamento do ex-diretor.

    Mais perturbadora ainda é a hipótese de a Justiça dar razão a Melhem, o que é uma possibilidade muito longe de ser descartada. Desde o início, o ex-diretor vem se defendendo de cada uma das acusações com um conjunto robusto e relevante de provas. Ele é formado por uma coleção de dezenas de mensagens de WhatsApp, além de muitas fotos, áudios e vídeos. Não há registro conhecido de um acusado por assédio sexual no Brasil ter rebatido com tamanha consistência uma acusação do tipo.

    Em linhas gerais, o conjunto mostra que Melhem não atuou dentro da Globo contra nenhuma dessas atrizes e que se relacionou de forma consentida com pelo menos duas delas — o que é reconhecido por essas mulheres.

    Melhem foi quem tomou a iniciativa de procurar a Justiça por reparação, depois que os detalhes do suposto caso de assédio sexual vieram à tona na imprensa por meio de reportagens como uma entrevista à Folha de S.Paulo da advogada Mayra Cotta, que representa até hoje as denunciantes. Ironicamente, é ela a única que recebeu até hoje alguma punição pelo escândalo. Em agosto do ano passado, Cotta acabou sendo condenada pelo Tribunal de Ética e Disciplina da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Conselho Seccional de Brasília. A pena recebida foi de censura convertida para advertência por propaganda da profissão associada a outros serviços. No início do caso Melhem x Calabresa, a advogada deu entrevistas sobre o episódio e vinculou esse conteúdo a menções aos serviços da consultoria de gênero que mantinha à época. Cotta entrou com um recurso contra a decisão, enquanto a acusação fez o mesmo, mas no sentido de aumentar a pena. O caso será julgado em segunda instância nos próximos dias.

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    Mayra Cotta durante o
    Mayra Cotta durante o “Encontro Nacional de Corregedorias”, organizado pela Controladoria-Geral da União (CGU), para falar das especificidades da apuração de casos de assédio sexual (Reprodução/Instagram)

    Independentemente dessa discussão sobre ética profissional na OAB, a advogada continua sendo muito requisitada para palestras sobre ética nas relações de trabalho. No final do ano passado, esteve na Caixa para falar sobre o assunto, em troca de um cachê de 3 000 reais. O banco público vem tentando aprimorar as políticas internas sobre assédio moral e sexual depois das acusações que geraram a demissão em junho de 2022 do ex-presidente Pedro Guimarães. No mês passado a Justiça Federal o tornou réu por sete acusações de assédio sexual e oito de importunação sexual de funcionárias. A defesa de Guimarães nega todos esses episódios.

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