Órgãos pedem explicação sobre fala de Damares, que ignora o tema nas redes
Ex-ministra, recém-eleita senadora, disse durante um culto evangélico que crianças do Pará estão sendo traficadas e exploradas sexualmente

Desde que a ex-ministra e senadora eleita Damares Alves (Republicanos-DF) afirmou em um culto evangélico em Goiânia, no último sábado, 8, que crianças do Arquipélago do Marajó, no Pará, são traficadas e abusadas sexualmente, ao menos três órgãos diferentes solicitaram explicações sobre os supostos crimes ao Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, que era comandado pela aliada do presidente Jair Bolsonaro. Sem apresentar provas, mas afirmando que elas existem, Damares disse que ela e Bolsonaro tiveram conhecimento dos crimes enquanto ela era ministra.
Na segunda-feira, 10, o Ministério Público Federal no Pará pediu esclarecimentos ao ministério sobre as “denúncias” de Damares, para que sejam tomadas as providências cabíveis, e solicitou que a pasta informe quais medidas adotou após descobrir os fatos supostamente criminosos. Nesta terça, 11, foi a vez de o Ministério Público do Estado do Pará enviar ofício ao ministério solicitando as mesmas informações. “Os promotores subscritores do ofício, até o presente momento, não dispõem de qualquer denúncia formal ou prova referente ao conteúdo dos fatos narrados no vídeo (de Damares), aguardando resposta ao ofício para adoção das medidas cabíveis”, informou o órgão. Também na terça-feira, a Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão, vinculada à PGR (Procuradoria-Geral da República), fez o mesmo pedido de esclarecimentos, dando três dias para a resposta do governo federal.
A despeito da pressão das autoridades, Damares, que é muito ativa nas redes sociais, tem ignorado o assunto. Em viagem pelo Norte do país para fazer campanha para Bolsonaro, ao lado da primeira-dama, Michelle, a senadora eleita fez dezenas de postagens no Twitter, no Instagram e no Facebook entre segunda-feira e esta quarta-feira, 12. Em uma delas, divulgou um vídeo em que, emocionada, relata ter sofrido ameaça de morte pela internet após ser eleita para o Senado. Mas não voltou a tocar no assunto sobre as crianças do Arquipélago do Marajó.
No vídeo polêmico em que descreve as atrocidades que estariam sendo cometidas contra as crianças paraenses, divulgado pela própria senadora eleita em suas redes sociais, ela pega carona no relato dos supostos crimes para fazer campanha para Bolsonaro. “A guerra contra Bolsonaro que a imprensa levantou, que o Supremo levantou, que o Congresso levantou, não é uma guerra política, é uma guerra espiritual”, discursou, na presença de centenas de fiéis em um tempo da Assembleia de Deus.