O único adversário que Bolsonaro não irá poupar na manifestação do dia 25
Ex-presidente prometeu não atacar autoridades e instituições no evento da Avenida Paulista

Apesar da orientação para que apoiadores não demonstrem animosidade contra autoridades e instituições no ato do próximo domingo, 25, o ex-presidente Jair Bolsonaro não deverá poupar um importante adversário. Trata-se de Luiz Inácio Lula da Silva.
Buscando evitar mais enroscos com a Justiça, Bolsonaro já pediu para que os manifestantes não levem faixas e cartazes contra o ministro Alexandre de Moraes, o Supremo Tribunal Federal (STF) e a Polícia Federal. As críticas ao atual presidente da República, no entanto, deverão rolar soltas — para além, é claro, do discurso de defesa da “liberdade” e do “Estado democrático de Direito” e de “perseguição política” que o ex-presidente vem empunhando.
Além de atacar a política econômica do atual governo — em temas como a queda na criação de empregos no último ano, supostas distorções na reforma tributária e o imbróglio da reoneração da folha de pagamento —, Bolsonaro deverá concentrar a artilharia nas últimas falas de Lula sobre Israel.
Em viagem à Etiópia, no último domingo, 18, Lula comparou a guerra Israel-Hamas, na Faixa de Gaza, ao Holocausto nazista da Segunda Guerra Mundial, classificando a atuação israelense como “genocídio”. “O que está acontecendo na Faixa de Gaza com o povo palestino não existiu em nenhum outro momento histórico. Aliás, existiu. Quando Hitler resolveu matar os judeus”, afirmou.
As declarações despertaram a ira do governo israelense e da comunidade judaica. No mesmo dia, o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu afirmou que Lula “deveria ter vergonha de si mesmo”. “O presidente Silva desonrou a memória de seis milhões de judeus assassinados pelos nazistas. E demonizou o estado judeu como o antissemita mais virulento. Ele deveria ter vergonha de si mesmo”, disse Netanyahu.
Nesta segunda-feira, 19, o Ministro das Relações Exteriores do governo israelense, Israel Katz, declarou Lula persona non grata até que “retire o que disse”. Segundo comunicado emitido por Netanyahu, o chanceler deverá convocar o embaixador brasileiro em Israel para uma “dura conversa de repreensão”.
Ex-chefe da Secretaria da Comunicação e aliado de primeira hora de Bolsonaro, o advogado Fabio Wajngarten foi às redes para rechaçar as declarações de Lula e disse que deverá sugerir ao pastor Silas Malafaia, patrocinador do ato do dia 25, que o embaixador de Israel seja convidado para a manifestação. “Certamente será muito bem recebido e acolhido”, publicou.
Até então mantida em fogo baixo, a investida contra Lula ganhou força após a divulgação de uma sondagem do Instituto Paraná Pesquisas, divulgada com exclusividade por VEJA, que mostra queda na aprovação do atual governo e um cenário acirrado em eventual disputa Lula-Bolsonaro nas próximas eleições — mesmo com o atual cenário de inelegibilidade do ex-presidente. As aparições públicas de Bolsonaro, que mesmo após o fim de seu mandato continua arrastando multidões de admiradores às ruas, também serviu de termômetro para o aumento do tom contra Lula.
Doações
Após a divulgação de que supostos perfis de apoiadores estariam organizando “rifas” para custear itens como bandeiras e tintas no ato, Bolsonaro divulgou vídeo nesta segunda-feira, 19, em que pediu que não sejam feitas doações a “quem quer que seja”. O ex-presidente ainda reforçou que os recursos para o evento partirão única e exclusivamente do pastor Silas Malafaia.
“Certas pessoas mal-intencionadas estão pedindo recursos para este evento. Deixo bem claro: todo o evento será custeado com recursos próprios do pastor Silas Malafaia. Não doe dinheiro para ninguém. O evento já está todo ele coordenado e garantido o pagamento para todas as despesas. (…) Não faça qualquer doação para quem quer que seja para este evento”, declarou.