O obscuro episódio de vazamento em uma usina nuclear de Angra
Acidente ocorrido em setembro do ano passado é alvo de investigação na PF, no Ministério Público e no Ibama e será tema de audiência no Congresso
Um vazamento ocorrido na Usina Nuclear Angra 1, no Rio de Janeiro, em setembro do ano passado, tem sido alvo de muita preocupação das autoridades, já mobilizou o Ibama, a Polícia Federal, a Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN) e o Congresso, virou alvo de investigação do Ministério Público e chegou à Justiça, mas até agora o episódio desperta mais dúvidas do que conclusões.
O vazamento de material radioativo teria ocorrido no dia 16 de setembro na Baía de Itaorna e, segundo reportagem do jornal O Globo, não foi comunicado imediatamente às autoridades pela Eletronuclear, empresa de economia mista responsável pela gestão do complexo nuclear de Angra dos Reis. O Ibama e a CNEN só souberam do ocorrido no dia 30 de setembro por meio de uma denúncia anônima.
O caso virou alvo de investigação do Ministério Público Federal. Segundo o MPF, a postura de Angra 1 “aponta evidências de que teria havido tentativa de esconder o vazamento, atuação que levanta dúvidas sobre a transparência e a seriedade com que a Eletronuclear trata a questão da segurança e a comunicação de incidentes”. A empresa informou que foram despejados apenas 90 litros de água contendo substâncias de “baixo teor radioativo” e que tratou o incidente como um “evento operacional interno”.
Na última quinta-feira, 11, a Polícia Federal cumpriu mandado de busca e apreensão em Angra 1. Há dois inquéritos para apurar supostas condutas omissivas na comunicação do acidente e possíveis crimes ambientais. Uma semana antes, o Ibama também havia feito uma vistoria no local, mas não apresentou ainda nenhuma conclusão sobre as consequências ambientais do acidente. O órgão multou a usina em 2,1 milhões de reais devido à demora em avisar sobre o vazamento.
Em março, a Justiça Federal havia determinado que a empresa realizasse uma avaliação completa dos possíveis danos do vazamento causados ao meio ambiente, como contaminação de água, solo e ar, além de eventuais impactos na saúde humana.
O próximo passo na tentativa de elucidar o caso será dado nesta terça-feira, 16, quando ocorrerá uma audiência sobre o tema na Comissão de Minas e Energia da Câmara dos Deputados. O requerimento para o debate foi apresentado pelo deputado Max Lemos (PDT-RJ). Já confirmaram presença o diretor-presidente da Eletronuclear, Eduardo Grivot, a analista de Infraestrutura do Ministério de Minas e Energia Liliane Ferreira da Silva e o diretor de Produção de Combustível Nuclear das Indústrias Nucleares do Brasil (INB), Marcio Adriano Coelho. Também foram convidados os prefeitos de Angra dos Reis, Fernando Ceciliano MDB), e Paraty, Luciano Vidigal (MDB), e um representante do Ibama.