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A política e seus bastidores. Com Laísa Dall'Agnol, Victoria Bechara, Bruno Caniato, Valmar Hupsel Filho, Isabella Alonso Panho e Ramiro Brites. Este conteúdo é exclusivo para assinantes.
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“O Exército está sendo usado pelo governo Bolsonaro”, diz um coronel

Segundo o militar, o presidente está aproveitando a imagem de eficiência das Forças Armadas para satisfazer seus planos de poder

Por Roberta Paduan Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 27 fev 2020, 20h18 - Publicado em 27 fev 2020, 20h00
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  • Há duas semanas, quando o presidente Jair Bolsonaro nomeou dois militares para dar expediente no Palácio do Planalto – o general Walter Braga Neto, como ministro da Casa Civil, e o almirante Flávio Rocha, como chefe da Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE) –, um coronel do Exército lamentou, em vez de comemorar. “Os escolhidos são qualificados para as funções, mas estou preocupado. O Exército Brasileiro está sendo usado. Melhor dizendo, as Forças Armadas estão”, disse o militar.

    Segundo o coronel, que falou na condição de anonimato, o governo acertou ao realizar duas mudanças junto com as nomeações: subordinou a SAE diretamente à presidência da República e colocou a Assessoria Especial sob tutela da SAE. A Assessoria Especial é comandada por Filipe Martins, um dos expoentes do grupo radical de seguidores do escritor Olavo de Carvalho, e que tem grande ascensão por ser também ligado aos filhos do presidente Carlos e Eduardo. Martins é o conselheiro do presidente para assuntos internacionais, mas, por causa de sua teia de relações com blogueiros e youtubers conservadores e de extrema direita, passou a ser chamado de chefe do Gabinete do Ódio, graças ao trabalho de coordenar as avalanches de ataques a quem consideram inimigos.

    Na prática, avalia o coronel, o presidente mandou o almirante Rocha enquadrar o grupo ideológico (talvez por causa da CPI das Fake News, para a qual Martins foi convocado). Eles devem ser deslocados um escalão abaixo, sob comando do secretário-adjunto da SAE. O movimento, apesar de positivo, na avaliação do coronel, vai gerar atritos e turbulência ao redor de Bolsonaro. “Essa turma deve estar muito mal-acostumada com a excessiva liberdade que tiveram no primeiro ano de governo”.

    O coronel, que foi eleitor do presidente e acompanha o governo desde o início, relata que se desiludiu com o líder político por vários motivos. “Jair Bolsonaro não cumpriu parte do que tanto prometeu, de combater firmemente o crime organizado. Ele esvaziou Moro, esvaziou tudo o que conseguiu até agora para poupar o filho (Flávio Bolsonaro, investigado por corrupção por rachadinha) com seus interesses velados. O jogo legalizado vem aí, com os cassinos. As negociações avançam nos três poderes”, desabafou.

    Nessa quarta-feira, 26, depois da repercussão dos vídeos que chamam a população a manifestações em 15 de março, o coronel estava ainda mais preocupado (os vídeos atacam o Congresso e usam imagens de generais, incluindo a do vice-presidente Hamilton Mourão e do ministro Augusto Heleno). Segundo ele, Jair Bolsonaro está aproveitando a eficiência e a seriedade das Forças Armadas para seus planos de poder.

    Quem imaginou que a presença de militares ao seu redor conferiria temperança e eficiência a seu governo, enganou-se. Uma personalidade como a de Bolsonaro não pode ser tutelada, muito menos por um grupo de generais com pouca experiência política. Tentar pôr um cabresto no presidente da República seria um risco perigoso, e caro. Qualquer lambança nessa operação pode colocar a perder décadas de sobriedade e prudência de nossa instituição.” Foi um desabafo, mas mostra que as Forças Armadas não são um monolito apoiador do governo.

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