A ação penal contra a deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) e o hacker Walter Delgatti Neto por invasão a sistemas do Judiciário voltou a tramitar no Supremo Tribunal Federal (STF). Em depoimentos separados na última segunda-feira, 7, os dois relataram versões conflitantes sobre o caso — o programador confessa o ataque cibernético e afirma que foi contratado pela parlamentar, que nega participação no crime.
Delgatti e Zambelli são réus por invasão de dispositivo e falsidade ideológica em denúncia movida pela Procuradoria-Geral da República (PGR) e recebida pelo STF em maio. O inquérito apura quebras de segurança nas redes do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) entre outubro de 2022 e janeiro de 2023, e a implantação de um mandado de prisão forjado contra Alexandre de Moraes — o documento traz a assinatura falsificada do próprio ministro.
À Justiça, Zambelli afirma que não teve participação no crime e que “não se lembra de ter recebido” a ordem de prisão forjada, que foi encontrada em seu aparelho celular pela perícia policial. “Imagino que deve ser uma invasão do meu celular”, declarou a parlamentar. Ela acrescentou que “não teria porque se envolver”, uma vez que já responde a outra investigação por ter empunhado uma arma e perseguido um eleitor na data do segundo turno das eleições de 2022.
Em confissão, Delgatti acusa deputada e cita Bolsonaro e Valdemar
Também nesta segunda, 7, o hacker Walter Delgatti foi interrogado. Ele novamente confessou toda a participação na invasão aos sistemas do CNJ e disse que fez tudo a pedido de Zambelli. “Eu fiz isso porque, segundo ela (a deputada), eles iam me dar um emprego. (…). O sentimento que eu tenho hoje é de que ela é uma caloteira. Eu estou preso aqui”, disse o hacker no seu interrogatório. A defesa dele apresentou um novo recurso pedindo a sua soltura nesta segunda — ele está preso desde agosto do ano passado e foi condenado à detenção, em julho de 2024, por calúnia contra o ex-presidente Jair Bolsonaro.
Delgatti confirmou que se encontrou com o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, e também com Bolsonaro — que na ocasião estaria acompanhado do ex-ajudante de ordens Mauro Cesar Barbosa Cid e do ex-assessor da Presidência Marcelo Câmara. O hacker disse também que aceitou a oferta de Zambelli porque sentia que o presidente Lula “deveria ter sido grato” a ele por causa das revelações da “Vaza Jato”, levadas à imprensa por Delgatti e prova fundamental para que o petista fosse colocado em liberdade. “Eu esperava que ele seria pelo menos grato. Como não houve gratidão eu aceitei o pedido de Carla Zambelli. Hoje eu me arrependo muito”, afirmou.
O interrogatório dos réus é a última etapa da fase de produção de provas do processo criminal. Depois disso, se não houver intercorrências, o caso fica pronto para ser julgado no plenário do Supremo Tribunal Federal (STF).