O senador e ex-vice-presidente Hamilton Mourão (Republicanos-RS) afirmou na tarde desta quinta, 8, que as Forças Armadas e a Justiça Militar não podem se omitir diante do que classificou de uma tentativa de se implantar um regime autoritário de fato no país. A fala se deu no contexto da repercussão da operação deflagrada pela Polícia Federal na manhã desta quinta e que teve como alvos o ex-presidente Jair Bolsonaro e ex-assessores, entre os quais militares da ativa e da reserva.
De acordo com o parlamentar, que é general da reserva, as pessoas responsáveis e sérias precisam se reunir para avaliar, diagnosticar e denunciar o que está acontecendo. “O que se vislumbra é a intenção de caracterizar as manifestações da população como fruto de uma conspiração golpista, desqualificando, portanto, toda e qualquer forma de protesto contra o estado de coisas que, até 2016, tinha se instalado o Brasil sob a tutela da corrupção e hoje sob o árbitro da nossa Suprema Corte”, declarou.
Uma devassa persecutória é o que estamos testemunhando, hoje, no Brasil. Não podemos nos omitir, nem as Forças Armadas, nem a Justiça Militar, sobre esse fenômeno de desmando desenfreado que persegue adversários e que pode acarretar instabilidade no País.
Confira meu discurso:…
— General Hamilton Mourão (@GeneralMourao) February 8, 2024
Mourão disse ainda que é preciso repudiar “os fatos que estão ocorrendo”, já que, segundo ele, “nenhuma suposta ameaça ao estado democrático de direito justifica tal devassa persecutória ao arrepio da lei”. “No caso das Forças Armadas, os seus comandantes não podem se omitir perante a condução arbitrária de processos ilegais que atingem seus integrantes ao largo da Justiça Militar”, afirmou, ressaltando que o tribunal militar também não pode se calar.
Durante discurso na tribuna do Senado, o ex-vice-presidente afirmou que “nem Hitler ousou, no começo de sua ascensão ao poder, limpar a área”. Ele ainda convocou os colegas, por meio das redes sociais e palestras, a mobilizar a sociedade para cobrar, de forma pacífica, o que chamou de “arbítrios” do STF .
Sem citar a Operação Lava-Jato, Mourão deu a entender que as recentes operações e investigações autorizadas pela Corte são uma demanda de “oligarquias regionais que querem subjugar o país a seu jogo de corrupção, no qual o PT não passa de uma fachada para que os verdadeiros donos do poder façam o que bem entendem”.
Ao finalizar sua fala de pouco mais de cinco minutos, Mourão afirmou estar extremamente preocupado com a possibilidade de um “confronto de gravíssimas consequências”, mas sem dar detalhes. “A mera observação da precipitação dos acontecimentos, cada vez mais traumáticos, indica a possibilidade lamentável de um confronto de gravíssimas consequências. Perseguem-se homens de honra, que dedicaram sua vida ao serviço da pátria, ao mesmo tempo em que corruptos são aquinhoados com o perdão de suas dívidas e a bandidagem, que massacra a nossa população, está livre nas ruas.”
O teor do discurso gerou reações quase que imediatas. O deputado federal Guilherme Boulos (PSOL-SP) anunciou que seu partido entrará com representação no Conselho de Ética do Senado pedindo a cassação do mandato de Mourão por incitar as Forças Armadas a ações golpistas de descumprimento judicial.