O secretário de Cultura, Mario Frias, rebateu nesta terça-feira 2 uma fala do ator e diretor Wagner Moura no programa Roda Viva, da TV Cultura, em que ele disse que não comentaria uma frase do presidente da Fundação Palmares, Sérgio Camargo, com ataques ao filme Marighella — que estreia nesta quinta-feira, 4, e foi dirigido por Moura.
“Eu não vou comentar. Eu não tenho nenhum respeito por nenhuma declaração que venha de qualquer pessoa que faça parte desse governo, nem desse cara, aquele outro cara da Secretaria de Cultura. Não vou comentar porque não respeito. A gente precisa escolher os combates”, disse, ao ser instado a comentar a frase de Camargo, que chamou Marighella de um filme racista, por “chamar cada homem preto honrado do Brasil de marginal ao escalar um ator preto para o papel de um psicopata comunista”.
Pelo Twitter, o ex-ator de Malhação afirmou que a falta de respeito é mútua. “Somos dois então. Não sinto nada além de desprezo por esse sujeito patético que bate palma pra bandido!”, escreveu.
Tão logo publicou o ataque, Frias, um dos últimos remanescentes da ala ideológica do governo Bolsonaro, recebeu a solidariedade de aliados que se irmanam na particular concepção de guerra cultural contra a esquerda.
“Terrorismo quem fez foi o personagem que este ator interpretou e ainda teve a desfaçatez de falar em “amor” para resumir a história de um homicida. E covardia é defender o socialismo e ir morar em um país capitalista”, escreveu a deputada federal Carla Zambelli.
“Também não temos respeito por você”, apoiou André Porciuncula, capitão da PM e braço-direito de Frias na secretaria de cultura, responsável pela aprovação de projetos culturais para receber financiamentos via Lei Rouanet.
LEIA MAIS: ‘Marighella’ chega aos cinemas com aura de fenômeno pop
A cinebiografia do guerrilheiro Carlos Marighella, dirigida por Moura, chega aos cinemas brasileiros na próxima quinta-feira, 4, mais de dois anos depois de ser ovacionado na estreia internacional no festival de Berlim, em fevereiro de 2019.
Aqui no país, os produtores do longa viveram uma intensa batalha burocrática com a Ancine, agência federal de fomento ao setor audiovisual, que inviabilizou a estreia em razão de outro filme que não havia sido lançado no prazo pela produtora O2.
Moura chegou a dizer que tratava-se de uma censura velada do governo Bolsonaro à obra. Desde janeiro de 2020, antes da pandemia fechar as salas de cinema em todo o mundo, o filme chegou a ter duas datas de estreia anunciadas (14 de maio do ano passado e 14 de abril de 2021).