A ascensão ao poder de Jair Bolsonaro foi comemorada pelos garimpeiros, que o apoiaram em massa pelas promessas de campanha de facilitar a atividade no território nacional, abrindo espaço para a mineração até em áreas protegidas. Em um evento realizado no Pará em julho de 2018, por exemplo, o então presidenciável do PSL prometeu, em caso de sucesso na disputa ao Palácio do Planalto, levar “progresso” a aldeias indígenas e permitir que quilombolas abram garimpo em terras demarcadas.
Por esse tipo de discurso, a vitória do capitão foi celebrada na época por políticos como Valmir Climaco, prefeito de Itaituba, no interior do Pará: “O presidente Bolsonaro falava em cima de palanque que era a favor da regularização dos garimpos. Eu não tenho dúvidas que ele é favorável. O pai do presidente foi garimpeiro. Isso vai mudar. Antes, éramos nós contra as ONGs. Agora, somos nós e o governo federal contra as ONGs”.
Como mostra a reportagem de capa da última edição de VEJA, sob a gestão de Climaco, prefeito em segundo mandato, o garimpo ganhou tamanho impulso que ocupa hoje em Itaituba uma área pouco maior do que a de uma capital como Curitiba. “Concedi mais de 400 licenças para garimpeiros em meu governo”, disse ele a VEJA. A cidade tornou-se também a origem de 81% de todo o ouro classificado como ilegal no Brasil em 2019 e 2020 (6,3 toneladas de um total de 7,7).
Curiosamente, não foi devido a essa atuação no garimpo que Climaco chamou a atenção de Bolsonaro, a ponto de receber elogios do presidente. Em uma live transmitida em maio de 2020, Bolsonaro citou uma conversa que teve com o prefeito e o lovou por seu negacionismo em relação à pandemia de Covid-19. Àquela altura, Itaituba mantinha o comércio aberto, motivo das congratulações presidenciais. Pouco mais de um mês após a live, os casos de coronavírus na cidade explodiram de 28 para cerca de 2 700. Evolução brutal ocorreu também em relação às mortes. De um caso, o número de óbitos saltou para 50. Apesar do elogio público, Climaco se mostra hoje decepcionado com Bolsonaro, pois tinha uma expectativa de que o presidente faria muito mais pelos garimpeiros.