Nesta quarta-feira, 28, a revista britânica The Economist, prestigiada publicação de economia da imprensa internacional, publicou um editorial intitulado “Gafes de Lula ofuscam o brilho do Brasil no G20”, com críticas duras à postura externa do presidente brasileiro.
Citando as falas de Lula em relação ao conflito em andamento na Faixa de Gaza e os acenos de amizade à Rússia, o artigo sugere que os “discursos improvisados” do presidente podem colocar em xeque toda a política externa brasileira, que vem ganhando destaque nos últimos anos, particularmente, em razão do debate sobre a preservação da Amazônia.
Outro posicionamento questionado pelos editores da revista é “o desejo ingênuo [de Lula] de parecer amigável tanto com autocratas quanto democratas”. Em entrevista ao periódico, o diplomata e ex-ministro da Fazenda Rubens Ricupero afirmou que “estas inconsistências ameaçam enfraquecer os efeitos gerais da política externa de Lula”.
Em seu último parágrafo, o artigo editorial resume as desconfianças do mundo em relação ao atual governo brasileiro. “Lula quer que o Brasil seja tudo para todos: um amigo do Ocidente e um líder do Sul Global, um defensor do meio ambiente e uma potência global em petróleo, um promotor da paz e um aliado de autocratas. O Brasil pode estar de volta, mas o papel que está desempenhando no palco mundial é mais obscuro do que deveria ser”, conclui o texto.
‘Lealdades duvidosas’
O artigo da The Economist ressalta dois episódios ocorridos nas últimas semanas como exemplos de posições “desajeitadas” e “lealdades duvidosas” de Lula. O primeiro caso foi a analogia do presidente ao Holocausto enquanto criticava as ações militares de Israel contra palestinos na Faixa de Gaza – algo que só ocorreu na História “quando Hitler resolveu matar os judeus”, nas palavras do petista. “Israel imediatamente declarou Lula ‘persona non grata’, e o Hamas exaltou seus comentários como ‘precisos'”, observa o texto da revista.
O outro momento citado no artigo é a reação de Lula à notícia da morte de Alexei Navalny, notório opositor do regime de Vladimir Putin na Rússia, que levantou suspeitas sobre um possível assassinato político por ordem do governo. “Para que essa pressa de acusar alguém [pela morte]?”, respondeu o petista, questionado pela imprensa.
“Não foi a primeira demonstração de simpatia de Lula ao regime de Putin. Ele já culpou a Ucrânia por ter sido invadida pela Rússia”, diz o artigo. A matéria acrescenta que o presidente brasileiro chegou a garantir que Putin poderia vir com segurança à Cúpula do G20, no Rio de Janeiro, mas foi aconselhado a voltar atrás para não infringir o acordo entre Brasil e o Tribunal Penal Internacional (TPI), que tem aberta uma ordem internacional de prisão contra o chefe do Estado russo.