Fundo de investimento vai assumir gestão da Fundação Brasileira de Teatro
Sob risco de extinção, entidade que mantém a faculdade pioneira na formação profissional de artistas no país terá nova gestão
O Comming TCI, fundo presidido por Fernando Neto, vai assumir a gestão da Fundação Brasileira de Teatro (FBT), criada no Rio de Janeiro em 1955 e transferida para Brasília em 1972. A fundação é mantenedora da Faculdade de Artes Dulcina de Moraes, pioneira na formação profissional de artistas no país, e do Teatro Dulcina.
A organização privada de interesse público já não pode receber mais recursos públicos após a constatação de diversas falhas nas gestões há pelo menos quinze anos. Em agosto de 2023, o Ministério Público da União (MPU) declarou as prestações de contas de 2018, 2019, 2020 e 2021 irregulares. Apenas em passivos trabalhistas, a Fundação já acumula dívidas de mais de 40 milhões de reais pela falta de recolhimento de FGTS dos funcionários. Pareceres de analistas contábeis apontam irregularidades como arrecadação de locações e sublocações das dependências da fundação que não foram demonstradas na prestação de contas de gestões anteriores. As investigações constataram até um saque de 600.000 reais dos cofres da FBT, nunca contabilizados.
Nos últimos anos, a fundação tem tentado se reerguer, mas diante do cenário, o MPU requereu judicialmente a intervenção e neste ano, pediu uma solução definitiva para o imbróglio até julho de 2024, sob o risco de pleitear a dissolução da FBT e apropriação do patrimônio. A atual gestão negociou um alargamento do prazo até dezembro para formar os estudantes que estavam em meio às aulas. Com a gestão do novo fundo de investimentos, há expectativa de que a promotoria não peça a extinção da entidade.
A sede, localizada a cerca de dois quilômetros da Esplanada dos Ministérios, foi projetada por Oscar Niemeyer, é um espaço tombado e considerado patrimônio cultural do Distrito Federal. O Teatro Dulcina de Moraes é o resultado de uma ideia do arquiteto de que quem chegasse na rodoviária, no marco zero de Brasília, tivesse a trinta passos de um aparelho cultural. Os dois auditórios, porém, se encontram em um estado decadente. Na pandemia foi cortada a luz do local, que se encontra tomado por fungos, com sinais claros de falta de conservação. Além da importância histórica e cultural do espaço, a FBT abriga um arquivo raro que corre perigo. Há expectativa de que a nova gestão também recupere o espaço.