Em meio a guerra de caciques, PP aprova agenda de cláusulas ‘inegociáveis’
'Agenda Central' deverá ser seguida por filiados, sob risco de punição; Lira e Ciro Nogueira têm divergido sobre posicionamento em relação ao governo Lula
Por unanimidade, a Executiva Nacional do Progressistas (PP) aprovou na noite desta terça-feira, 19, a chamada “Agenda Central” do partido — documento que reúne onze cláusulas pétreas “inegociáveis” e que deverão ser seguidas pelos membros da legenda.
Organizada e apresentada pela senadora Tereza Cristina (PP-MS) a pedido do presidente da sigla, Ciro Nogueira (PI), a carta afirma estar sedimentada em princípios como o respeito à Constituição, a promoção do desenvolvimento econômico sustentável e o combate à corrupção. Entre os principais pontos definidos está o posicionamento da legenda contra o aumento de impostos, o retorno da contribuição sindical e as invasões de terra. Os signatários também se comprometem em apoiar temas como a eficiência do gasto público e o fomento ao empreendedorismo.
A proposta agora consolidada foi anunciada em julho por Ciro Nogueira como forma de “traçar uma linha” em relação à adesão de correligionários ao governo Luiz Inácio Lula da Silva. O cacique tem afirmado que a legenda “jamais” será da base petista, embora outras figuras graúdas, como o presidente da Câmara Arthur Lira (PP-AL), tenham pressionado pelo enlace. Foi Lira, inclusive, quem conduziu as negociações para que o deputado federal André Fufuca (PP-MA) assumisse o Ministério do Esporte de Lula. Na última segunda-feira, 18, o parlamentar declarou ainda que a bancada do partido na Câmara é, de fato, da base do governo.
A cúpula do partido — leia-se, Nogueira –, no entanto, tem declarado que o partido é independente. “São onze cláusulas que nos unem, independentemente se você tem cargos ou não no governo ”, afirmou o cacique a VEJA após a aprovação nesta terça-feira. “O partido votou por unanimidade esses princípios, que são muito importantes para que possamos manter uma linha em sintonia com o nosso eleitorado”, diz Nogueira.
A ratificação dos princípios do partido é o primeiro passo para um eventual “fechamento de questão” em torno de votações no Congresso — sob este contexto, as siglas podem punir parlamentares que votarem contra a orientação partidária. Questionado sobre possíveis sanções a filiados que desrespeitarem as regras da “Agenda Central”, o presidente da sigla confirma que haverá punições, ainda a serem definidas. “Mas não acredito que vá acontecer”, diz.
Internamente, a cúpula do PP discute o lançamento de uma candidatura presidencial em 2026 que se contraponha ao atual governo — daí a necessidade da definição de princípios claros na legenda, principalmente que a afastem da gestão petista. Atualmente, a bancada de cerca de 50 deputados do Progressistas atua de forma mista: em estados do Nordeste, há uma maior proximidade com a base petista, a exemplo de Lira e Fufuca. Já congressistas das regiões Centro-Oeste, Sudeste e Sul têm se posicionado contra o governo Lula.
Com a inelegibilidade de Jair Bolsonaro, frentes do chamado Centrão — que inclui, além do PP, o PL e o Republicanos — já ventilam um possível nome para a centro-direita. Entre o rol de cotados, estão a própria senadora Tereza Cristina (PP-MS), o governador de São Paulo Tarcísio de Freitas (Republicanos) e o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ).