Em meio a embates com a direita, Dino vira ministro mais popular nas redes
Índice de Popularidade Digital do ministro da Justiça aumentou após audiências tumultuadas no Congresso, onde ele ironizou bolsonaristas
O ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, começou a assumir o protagonismo antes mesmo de o governo Lula começar. Em dezembro, ainda na transição, tomou a frente na reação aos ataques de bolsonaristas ao prédio da Polícia Federal, em Brasília, e à tentativa de um ataque a bomba no aeroporto da capital. Após o 8 de janeiro, ele surgiu anunciando um “pacote da democracia”, com medidas para endurecer punições aos golpistas. Ao longo dos últimos seis meses, como mostra reportagem de VEJA desta semana, Dino fez também aparições midiáticas em meio à comoção provocada pelos ataques a colégios, da tentativa regulação das redes sociais — “enquadrou” executivos das plataformas em uma reunião gravada — e da descoberta de um plano de ataque do PCC contra o senador Sergio Moro (União-PR).
A superexposição do ex-governador maranhense não afetou sua relação com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mas vem causando efeitos colaterais, em diversas frentes de desgaste e embates, como no Congresso, onde já participou de três audiências na Câmara e uma no Senado, sempre muito tumultuadas em razão de discussões com a oposição. Outro efeito da midiática atuação do ministro, que coincidiu com o início de suas idas ao Legislativo, no final de março, foi seu avanço no Índice de Popularidade Digital (IPD) calculado pela Quaest. O ministro da Justiça assumiu a liderança do índice em abril e manteve a dianteira de lá para cá.
O IPD, que varia de zero a 100, é determinado por meio de um algoritmo que coleta 152 variáveis em plataformas como Twitter, Facebook, Instagram, Google, YouTube e Wikipedia. Os dados são agrupados em “dimensões analíticas” como “Presença Digital”, que considera os perfis ativos nas redes sociais; “Fama”, que mensura o público total nas redes; “Mobilização”, que mede o total de compartilhamentos de conteúdos nas plataformas; “Engajamento”, com o volume de reações e comentários em postagens nas redes; e “Valência”, que pondera a proporção de reações positivas por reações negativas a conteúdos postados.
Entre janeiro e março, o líder do IPD entre os ministros do governo Lula foi o ministro da Economia, Fernando Haddad, com índices que variaram, nesta ordem, de 61,52 para 68,66 e 67,98. Flávio Dino foi o terceiro em janeiro (55,51) e fevereiro (53,2) e o segundo em março (61,31). Em abril, conforme a Quaest, o ministro da Justiça avançou mais de dez pontos (72,97) e superou Haddad (65,72) na liderança. Em maio e junho, Dino se manteve em primeiro lugar em popularidade digital no governo, com índices de 73,46 e 72,52, respectivamente (veja tabela abaixo).
Embates no Congresso
O avanço do ministro da Justiça no IPD coincidiu com as audiências em que tiradas sarcásticas dele em deputados bolsonaristas se tornaram meme nas redes sociais. Em uma delas, na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara, em março, Dino comparou a “terraplanismo” declarações do deputado novato André Fernandes (PL-CE) de que o ministro seria alvo de 277 processos na Justiça – a afirmação foi feita com base na interpretação errada de uma precária pesquisa na internet. No início de maio, na Comissão de Segurança Pública do Senado, Dino fez troça do senador Marcos do Val (Podemos-ES) e sua autoproclamada relação com a SWAT, unidade de elite da polícia dos Estados Unidos. “Se o senhor é da SWAT, eu sou dos Vingadores”, provocou.
Apesar da avaliação de que Dino conseguiu se sair bem nas audiências – o deputado Marco Feliciano (PL-SP) chegou a dizer que ele “engoliu uns dez deputados” nas oitivas –, a oposição promete manter pressão sobre Dino. “Vamos continuar convocando o ministro, ainda que ele tenha sempre esse comportamento desrespeitoso, de piadinhas e querer ‘lacrar’”, diz o líder da oposição na Câmara, Carlos Jordy (PL-RJ). Flávio Dino também está na mira dos bolsonaristas da CPMI do 8 de Janeiro, com pedidos de convocação e de quebras de sigilo. Espera-se que ele seja convidado a falar à CPMI, que tem como relatora uma aliada de Dino, a senadora Eliziane Gama (PSD-MA).