Um dos partidos que integraram formalmente a derrotada coligação do presidente Jair Bolsonaro (PL) na eleição presidencial, o PP é um dos partidos do Centrão às voltas com divisões internas entre lulistas e bolsonaristas, como mostra reportagem de VEJA desta semana. Diante deste quadro, e das conveniências políticas de cada parlamentar, líderes da sigla veem como desfecho mais provável que uma parte da bancada de 47 deputados eleitos apoie o presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, e outra parte siga para a oposição ao petista.
“Acredito que os deputados mais ligados ao Nordeste não terão dificuldade para apoiar o governo, mas os das regiões Sul e Sudeste poderão ter. Houve uma divisão ideológica muito clara no processo eleitoral entre os que apoiam Lula e Bolsonaro”, diz o deputado Cláudio Cajado (BA), presidente em exercício do PP. Dos 47 deputados eleitos pelo partido, 20 são de estados do Nordeste e os demais se distribuem pelas outras regiões: doze no Sudeste, sete no Sul, cinco do Norte e três no Centro-Oeste. “Em todos os partidos isso acontece”, avalia Cajado.
Uma exceção à lógica geográfica da divisão do PP é o ministro Casa Civil de Bolsonaro, Ciro Nogueira, presidente licenciado do partido. De volta ao Senado a partir do ano que vem, Nogueira já prometeu a interlocutores nos bastidores que fará quatro anos de oposição a Lula, de quem costumava ser cabo eleitoral no Piauí. Por outro lado, os líderes da sigla em estados do Sudeste como Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo, os três maiores colégios eleitorais do país, já estão alinhados aos governadores bolsonaristas Romeu Zema (Novo), Cláudio Castro (PL) e Tarcísio Gomes de Freitas (Republicanos).
“Essa identificação do voto ideológico vai pesar em algumas regiões do país. A avaliação não será do partido, mas de cada deputado individualmente de acordo com a eleição que ele teve nas urnas”, avalia Cajado.
Em meio à divisão, o PP tem um consenso interno: a prioridade absoluta à recondução do presidente da Câmara, Arthur Lira (AL), para mais dois anos à frente da Casa. Aliado de Bolsonaro, Lira tem canal aberto com interlocutores de Lula e apoia a tramitação da PEC da Transição, prioridade no Congresso ao governo que ainda nem tomou posse. As sinalizações do presidente da Câmara o aproximaram do PT, onde lulistas dizem ser cada vez mais provável apoiar a reeleição do alagoano.