Delator conta como teria virado informante de Moro; veja vídeo
Empresário paranaense Tony Garcia diz que foi 'usado' pelo ex-juiz federal para colher provas contra autoridades do Judiciário

O senador e ex-juiz federal Sergio Moro (União Brasil-PR) enfrentou um duro revés nesta segunda-feira, 15, depois de o ministro Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal (STF), autorizar a abertura de um inquérito para investigar o ex-juiz por irregularidades cometidas na condução de um acordo de delação premiada em 2004.
O delator de vinte anos atrás é o empresário Antonio Celso Garcia, conhecido como Tony Garcia. Ele foi deputado estadual no Paraná entre 1999 e 2002. O caminho dele cruzou com o de Moro por causa do Consórcio Garibaldi, uma empresa de financiamentos que faliu nos anos 1990, palco de uma acusação de corrupção que o Ministério Público paranaense fez contra o empresário. O senador era o juiz do processo na época.
No acordo de colaboração, ao qual VEJA teve acesso, Garcia se comprometeu a trazer provas não apenas do caso Garibaldi, em que foi acusado, como também de suspeitas de corrupção envolvendo membros do Judiciário. O acordo de delação autorizava Garcia a fazer “escutas externas” para trazer provas sobre esses episódios. Em um depoimento prestado à Justiça em março de 2021 para a juíza Gabriela Hardt, que também esteve à frente da 13ª Vara Federal de Curitiba — a vara da Lava-Jato –, o empresário explica detalhadamente como teria se tornado um “espião” de Sergio Moro (veja abaixo).
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“Eu fui agente infiltrado do Ministério Público. Trabalhei dois anos e meio, diuturnamente, 24 horas tendo um agente de inteligência da Polícia Federal ao meu dispor, para pedir segurança, para pedir interceptação, tudo que colaborasse com a Justiça”, disse o empresário. No depoimento, Garcia conta que, a pedido de Moro, levou outros suspeitos para fazerem acordos de delação premiada no gabinete do magistrado — que nega todas as acusações.
O anexo do acordo de colaboração enumera os episódios sobre os quais Garcia se comprometeu a trazer provas. Há o caso de um ex-presidente do Tribunal de Justiça do Paraná que teria recebido propina para aceitar um recurso, de tráfico de influência na escolha de ministros do Superior Tribunal de Justiça (STJ) e de compra de liminares na Corte, do direcionamento da distribuição de processos no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e de tráfico de influência no Tribunal Regional Federal da 4ª região (que atende Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul). Moro suspeitava que o advogado do empresário estava envolvido com esses casos.
Garcia briga na Justiça para anular os efeitos da delação — o que inclui reverter a obrigação de arcar com parte do prejuízo financeiro do Consórcio Garibaldi. O empresário era amigo pessoal do ex-governador do Paraná Beto Richa (PSDB) e fez, em 2018, outro acordo de colaboração premiada que levou o tucano à prisão em uma das fases da Operação Lava-Jato.
Outro lado
Procurado por VEJA, Sergio Moro enviou uma nota afirmando que “sua defesa não teve acesso aos autos (do inquérito no STF) e reafirma que não houve qualquer irregularidade no processo de quase vinte anos atrás. Nega, ademais, os fatos afirmados no fantasioso relato do criminoso Tony Garcia, a começar por sua afirmação de que ‘não cometeu crimes no Consórcio Garibaldi’.