Adepto da estratégia do “jogar parado” e com um comportamento de esfinge política, o ex-governador paulista Geraldo Alckmin tem sido pressionado internamente a se movimentar se vai permanecer ou não no PSDB. A data-limite para a definição é 20 de setembro, quando se encerra a inscrição dos pré-candidatos ao governo para as prévias estaduais que foram oficializadas nesta segunda-feira, dia 19.
A agilização do processo foi encampada pelo governador de São Paulo, João Doria (PSDB) – mais afeito ao estilo “acelera” -, que tem tentado convencer Alckmin a disputar o Senado pela sigla. O ex-governador, no entanto, já o avisou diretamente que não quer concorrer ao legislativo e se sente traído pelo ex-afilhado. A relação entre os dois, que já foram bem próximos (Doria ganhou as prévias à prefeitura de São Paulo em 2016 com o apoio de Alckmin e em 2018 venceu novamente a disputa interna para encabeçar a chapa ao governo estadual, já com a resistência do “mentor”), hoje é só protocolar.
O candidato de Doria é o vice-governador, Rodrigo Garcia, ex-DEM, recém-chegado ao PSDB, que já se inscreveu nas prévias estaduais nesta terça-feira, dia 20, e está em plena campanha. Nas últimas semanas, percorreu o estado visitando políticos aliados e filiando novos prefeitos e vices de outros partidos, como PSB e PTB. Nos eventos, ele tem procurado frisar a sua aproximação com líderes históricos do PSDB, como Franco Montoro, e brincado que, apesar do pouco tempo, já tem “bico e asas de tucano”. “São Paulo é um antes do PSDB e outro depois”, declarou em evento interno na terça-feira.
Segundo aliados próximos de Alckmin, o caminho mais provável é que ele saia da legenda que ajudou a fundar e se filie ao PSD, do ex-ministro Gilberto Kassab. Na cúpula pessedista, a chegada do tucano é vista como certa e natural. O ex-governador paulista já é tido como uma das principais peças no plano de Kassab, que se articula para montar palanques robustos nos maiores colégios eleitorais do país. Além de Alckmin, o PSD planeja ter candidatos competitivos a governador em Minas Gerais, com o prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil, no Rio de Janeiro, com o presidente da OAB, Felipe Santa Cruz, apoiado pelo prefeito carioca, Eduardo Paes, e no Paraná, onde o governador Ratinho Júnior tentará a reeleição. Na Bahia, o nome do senador Otto Alencar, que ganhou projeção com a CPI da Pandemia, é ventilado internamente.
O grupo de Doria tem tentado evitar a saída de Alckmin, pois teme abrir um flanco no “quintal de casa”, sendo que já tem problemas suficientes com o PSDB de outros estados comandado por seus rivais, como o deputado federal Aécio Neves (PSDB-MG). De qualquer forma, os correligionários de Doria avaliam que, se for para Alckmin sair mesmo, é melhor que seja logo.
Apesar de ter a máquina mão, Garcia não terá vida fácil na disputa se for confirmado candidato. Segundo o instituto Paraná Pesquisas, ele está atrás na corrida, com 0,4% das intenções de voto, enquanto Alckmin aparece com 17,6%.
As regras das prévias estaduais são uma réplica da das prévias nacionais, que Doria vai disputar com o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, o senador Tasso Jereissati e o ex-senador Arthur Virgílio Neto. E foram feitas pelo presidente do diretório paulista, Marco Vinholi, que é secretário de Desenvolvimento Regional do governo Doria. A data da eleição tanto da estadual como da nacional é o dia 28 de novembro.