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A política e seus bastidores. Com Laísa Dall'Agnol, Victoria Bechara, Bruno Caniato, Valmar Hupsel Filho, Isabella Alonso Panho e Ramiro Brites. Este conteúdo é exclusivo para assinantes.
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As acusações de fraudes em leilões que movimentaram cerca de R$ 40 milhões

Caso é referente ao processo de recuperação judicial da Agrisul Agrícola, conglomerado de cana-de-açúcar e álcool

Por Isabella Alonso Panho Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 9 Maio 2024, 11h33 - Publicado em 6 mar 2024, 12h17
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  • No universo de rolos derivados de processos de recuperação judiciais do país, um caso emblemático é o da Agrisul Agrícola Ltda, um conglomerado de cana-de-açúcar e álcool. A batalha na 8ª Vara Cível de São José do Rio Preto, no interior paulista, se arrasta há quinze anos e envolve uma disputa milionária. O caso inclui acusações de fraudes em leilões ocorridos para tentar restabelecer a saúde financeira da companhia.

    Na época em que a recuperação judicial foi aberta, a Agrisul vivia seu pior momento, acumulando dívidas cíveis, fiscais e trabalhistas, além de suspeitas de usar mão-de-obra análoga à escravidão. Aos poucos, o conglomerado foi se reerguendo, mas ainda tem muito a quitar. Com 929 reclamatórias em aberto, a Agrisul hoje está no 31º lugar do ranking que o Tribunal Superior do Trabalho divulga dos devedores trabalhistas do país. O número, no entanto, já foi bem pior, chegando a quase 2 000 ações judiciais de ex-empregados. 

    Uma das saídas desenhadas para esse quadro foi a de leiloar algumas propriedades e negócios da empresa por meio da criação de quatro lotes. Com o valor das vendas, a Agrisul poderia pagar as dívidas e virar a página. Mas não foi assim que a história se desenrolou. Empresas que venceram esses leilões acusam a Agrisul de dificultar a entrega do que foi arrematado.

    Crédito em discussão

    Quem comprou as terras do conglomerado no lote do Mato Grosso do Sul foi a Bams Participações, um player do mercado financeiro paulistano. Por R$ 31 milhões, a empresa adquiriu treze fazendas em um leilão que aconteceu em 2021, mas, até o momento, não colocou os pés nessas terras. Quando arrematou as propriedades, em vez de pagar em dinheiro, a Bams usou um crédito para fazer a aquisição – o que é permitido por lei em leilões judiciais.

    Os problemas começaram quando a BBN Finance, empresa que repassou o crédito a Bams, foi à Justiça, obtendo uma liminar para suspender o negócio. A alegação é a de que a concessão do crédito teria sido fraudada. Em outros termos, segundo a BBN, o papel seria falso, o que os representantes legais da Bams negam de forma veemente: “a petição e a cessão de crédito foram juntadas no processo de recuperação judicial do Grupo CBAA pela própria BBN. A referida cessão e leilão foram publicadas 4 vezes em Diário Oficial, com o conhecimento do advogado da BBN”, afirmam os advogados da Bams em nota encaminhada à VEJA.

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    Troca de acusações

    Ainda não houve sentença sobre o caso, mas o proprietário das empresas do grupo Agrisul, José Pessoa de Queiroz Bisneto, aproveitou o episódio para fazer acusações contra a Bams. “São estelionatários, é um caso de fraude”, disse a VEJA o empresário. Ele justificou não ter entregue as fazendas de R$ 31 milhões à Bams por causa da decisão judicial que suspendeu o crédito usado para pagamento. 

    Em nota enviada à VEJA, os representantes da Bams rebateram as declarações do empresário: “O próprio Sr. José Pessoa, diferentemente do que ele alega, participou e auxiliou na intermediação e conclusão do negócio jurídico. Suas assinaturas, que agora ele alega falsas, são perfeitamente válidas, conforme já restou demonstrado em dois laudos periciais elaborados por peritas experientes e de reputação reconhecida”.  

    Outro caso

    Há outros dois leilões que estão sendo contestados na Justiça. Um deles, ocorrido em 2022, envolve o arremate de um lote de fazendas no Sergipe por 38,8 milhões de reais. A vencedora foi a Some. O problema surgiu quando uma outra empresa, a Fênix Recuperação de Crédito S/A, contestou na Justiça o resultado, alegando que deu o maior lance, mas o gesto não ficou registrado por causa de instabilidades no sistema no dia. A discussão está na Justiça e a Some apresentou um laudo afirmando que o argumento não procede. 

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    Os imbróglios podem se arrastar por mais tempo ainda. Em dezembro do ano passado, foi pedido ao juiz da 8ª Vara Cível de São José do Rio Preto o encerramento da recuperação judicial  – assim, quem se sentir injustiçado, teria como alternativa continuar brigando nos tribunais. 

    Investigação 

    De resquício das investigações do passado, há um procedimento contra a Agrisul e as empresas do conglomerado na Procuradoria Regional do Trabalho do Mato Grosso do Sul, estado que concentra a maior parte das ações judiciais do conglomerado e onde estão as terras da briga com a Bams. O caso foi aberto em 2023 a partir de um levantamento do Centro de Pesquisa Patrimonial do Tribunal Regional do Trabalho em conjunto com o Ministério Público.

    “Foram identificadas diversas manobras dos ex-gestores formais e verdadeiros ‘donos’ do grupo, com o intuito de fraudar os credores, inclusive os trabalhistas”, disse a VEJA o procurador do Trabalho Paulo Douglas Almeida de Moraes, que cuida do caso. Se a suspeita se confirmar, a vendas podem ser anuladas e pode haver multas por fraude aos credores e por litigância de má-fé.

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