“Política é como nuvem”, afirmou certa vez o ex-governador de Minas Gerais Magalhães Pinto. “Você olha, está de um jeito. Olha de novo, e já mudou”, proferiu.
A máxima parece ser verdadeira — sobretudo em ano de eleição. Candidato à reeleição, Ricardo Nunes (MDB) já havia se decepcionado com Marta Suplicy, que deixou uma das secretarias dele para se tornar vice do principal adversário do prefeito, Guilherme Boulos (PSOL). Ocorreu recentemente um novo episódio de “traição”.
Até então “fechado” com a campanha de Ricardo Nunes (MDB) à reeleição, o analista político Wilson Pedroso assumiu, na última semana, a coordenação da campanha do adversário Pablo Marçal (PRTB) à Prefeitura de São Paulo.
Movimentações nos bastidores do xadrez político não são incomuns, mas a rapidez com a qual se deu a mudança do estrategista pegou de surpresa aliados do atual prefeito. “Estou feliz com o convite. Agora é arregaçar as mangas e agir para um trabalho sério, de inteligência e estratégia, exatamente da mesma forma que fiz em todas as eleições das quais participei”, afirmou Pedroso em comunicado divulgado na quinta-feira, 8, ao anunciar o embarque ao comitê do coach e empresário Pablo Marçal. Um dia antes, ele atuava normalmente junto à equipe mais próxima de Nunes e, no final de semana anterior, chegou a chamar auxiliares mais próximos para um jantar na sua casa.
Apesar da saída brusca e imprevisível, nomes próximos ao atual prefeito tentam minimizar o caso, dizendo que o estrategista não deixa um vácuo na campanha. “A questão é que ele não tinha protagonismo, não tinha sequer uma função definida. Até em termos de compensação financeira, acredito que não era vantajoso para ele”, diz um aliado de Nunes.
O receio, por ora, é que o “traidor” possa munir o adversário com informações internas da campanha do atual prefeito. Ambos disputam parte do eleitorado paulistano de direita e, sobretudo, da fatia de apoiadores de Jair Bolsonaro. Oficialmente, o ex-presidente fechou uma aliança de apoio a Nunes, com a indicação do coronel Ricardo Mello Araújo (PL) para o posto de vice. Boa parte do eleitorado do capitão, no entanto, é devoto ao coach.
Berço tucano
Wilsinho, como é conhecido, tem um longo histórico junto a lideranças tucanas e atuou na coordenação da campanha vitoriosa de Bruno Covas (PSDB) à Prefeitura de São Paulo em 2020. Antes disso coordenou ambas as candidaturas de João Doria (ex-PSDB) à prefeitura — onde atuou como chefe de gabinete — e ao governo do estado, onde atuou como secretário particular do ex-tucano. Wilsinho também trabalhou na campanha de Rodrigo Garcia (à época no PSDB), vice e sucessor de Doria, à reeleição.
A última edição da pesquisa Datafolha, divulgada na quinta-feira, 8, mostra um avanço de Marçal — de 10% para 14% — e um leve recuo de Nunes — de 24% para 23%. Outro nome que “embola” o campo mais à direita é o de José Luiz Datena (PSDB), que saltou de 11% para 14%. No mesmo dia, à noite, os candidatos participaram do primeiro debate da disputa à Prefeitura, promovido pela Bandeirantes. Nunes foi um dos principais “alvos” de Marçal.
Na próxima segunda, 19, às 11h, em parceria com a ESPM, VEJA promoverá um novo debate entre os principais candidatos à prefeitura paulistana, com transmissão pelo YouTube e redes sociais da publicação. O evento marcará a estreia do projeto VEJA E VOTE, que terá outros cinco debates com candidatos de outras cidades. O Instituto Paraná Pesquisas e o Bonini Guedes Advocacia são os apoiadores da iniciativa.