A fala de Lula sobre o aborto: ‘É papel do Congresso, não do presidente’
De olho no voto evangélico, ex-presidente tem mudado tom do discurso sobre o tema, dizendo ser pessoalmente contra, mas defendendo a autonomia da mulher
De olho no eleitorado evangélico, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) voltou a se posicionar pessoalmente contra o aborto nesta sexta-feira, 7. O ex-presidente declarou que a regulamentação do tema cabe ao Congresso – e não ao presidente da República – e, ao mesmo tempo, defendeu a “supremacia” da mulher sobre seu corpo.
“Sou contra o aborto (…). Quem tem que decidir sobre o aborto ou não é quem está grávida, que tem que ter mais poder de decidir se quer ou não quer”, declarou a jornalistas durante caminhada com Fernando Haddad (PT) em Guarulhos, na região metropolitana de São Paulo. “A lei existe e diz como que tem que acontecer ou não. Não é poder do presidente da República. Isso é papel do Poder Legislativo, e sobretudo da gente entender que a mulher tem supremacia sobre o seu corpo”, completou.
A declaração foi feita um dia após divulgação de vídeo da campanha em que o petista se posiciona contra o aborto, classificando a prática como algo muito “dolorido”. “Acho que quase todo mundo é contra o aborto. Não só porque nós somos defensores da vida, mas porque deve ser uma coisa muito desagradável e dolorida alguém fazer um aborto”, afirmou o ex-presidente na gravação.
A mudança no tom do discurso de Lula – que antes defendia o tema como questão de saúde pública – tem sido calculada e negociada junto a importantes lideranças evangélicas, entre elas a senadora Eliziane Gama (Cidadania-MA).
Conquistar parcela significativa do voto evangélico – que apoia em peso o presidente Jair Bolsonaro (PL) – tem sido uma das prioridades da campanha do ex-presidente no segundo turno.
No Rio de Janeiro, por exemplo, acontece já na próxima terça-feira, 11, um grande encontro de pastores e lideranças evangélicas em São João de Meriti em apoio a Lula. O evento está sendo articulado, entre outros nomes, por Eduardo Paes (PSD), que declarou trabalhar “incessantemente” pela vitória do petista na capital e no estado – sobretudo em redutos bolsonaristas, como a Zona Oeste e a Baixada Fluminense.
Promessas a Haddad
Na caminhada da manhã desta sexta-feira, Lula também fez promessas a um eventual governo Haddad, caso o PT saia vitorioso tanto na disputa presidencial quanto na estadual em São Paulo. O ex-presidente afirmou que pretende viabilizar a extensão do metrô até Guarulhos – segunda maior cidade do estado, atrás apenas da capital.
Levantamento do instituto Paraná Pesquisas divulgado também nesta sexta mostra que Tarcísio de Freitas (Republicanos) largou na frente de Haddad na disputa ao segundo turno – com 50,4% dos votos totais, contra 38,4% do petista.
“É uma promessa antiga, uma reivindicação antiga. O Haddad vai dizer que não está no plano de governo dele, mas nós vamos colocar (…) E isso só pode ser feito numa parceria. A gente não pode achar que o governo do estado pode fazer tudo. Ele tem limitações”, afirmou.
Lula ainda criticou as discrepâncias que o pacto federativo acaba criando entre os estados. Pelo mecanismo, estados “mais ricos” acabam recebendo menos dinheiro do governo federal na comparação com outras unidades da Federação. No caso de São Paulo, por exemplo, apenas em 2021 o governo federal recolheu 720 bilhões de reais em impostos do estado e “devolveu”, na forma de repasses, somente 46 bilhões de reais.
“O que nós precisamos é contribuir para que São Paulo, que é um estado que tem uma contribuição muito forte no governo federal, receba de volta em benefícios para o seu povo uma parte daquilo que arrecadou pro Brasil”, disse o ex-presidente.