O PIB cresceu 2,9% em 2022, impulsionado essencialmente pelos serviços presenciais. No quarto trimestre, os serviços e a agricultura cresceram 0,3% e 0,2, enquanto a indústria amargou queda de 0,3%, sendo que a de transformação encolheu 1,4%. No ano, os serviços cresceram 4,2%. O desempenho desfavorável da agropecuária derivou de más condições climáticas, que prejudicaram as lavouras de soja e milho.
Até o terceiro trimestre, a indústria foi favorecida pela redução das tarifas de energia elétrica, em razão de dois efeitos: (1) a redução populista de tributos, para melhorar a competitividade eleitoral do então presidente Jair Bolsonaro; (2) o bom regime de chuva, que garantiu elevado nível dos reservatórios das usinas hidroelétricas e, assim, o menor uso das termoelétricas, as quais operam a custos mais elevados.
Em 2022, a atividade econômica ganhou com os bons resultados do comércio exterior, dado o aumento de preços de commodities. As vendas externas cresceram 5,5%, enquanto as importações se expandiram apenas 0,8%. Fator de impulso fundamental do lado da demanda foi o consumo das famílias, que aumentou 4,3% no exercício.
Para 2023, fatores que contribuíram para o bom desempenho da economia em 2022 não mais estarão presentes. A indústria deve reverter o resultado positivo do ano passado, tendendo a cair 0,2%. Os números da indústria de transformação podem ser piores: queda de 0,5%; os da construção civil tendem a ser ainda menos favoráveis: redução de 1%. O comércio também deve desacelerar.
Tudo isso será em grande parte consequência da política monetária restritiva, pois a Selic pode manter-se em 13,75% até pelo menos o terceiro trimestre. O Banco Central dificilmente atenderá a demanda explícita do ministro da Fazenda para reduzir a taxa básica de juros já na próxima reunião do Copom. Para completar esse quadro, deverá esgotar-se o aproveitamento da capacidade ociosa dos serviços presenciais, deixando para trás o vigor do desempenho do setor em 2022.
Felizmente, a agropecuária tem tudo para mitigar esse cenário desfavorável. Para 2023, o prognóstico é o de que a produção de grãos, leguminosas e oleaginosas deverá crescer 13%. Estimativas indicam uma colheita de grãos da ordem de 300 milhões de toneladas. A participação do agronegócio no PIB pode alcançar 31%, com o que seu tamanho será equivalente ao do PIB da Argentina.
Esse cenário poderá melhorar se for aprovada a reforma tributária do consumo, cujos efeitos na redução substancial de ineficiências será fator chave para o crescimento da produtividade nos próximos anos. Ainda que os efeitos da reforma demorem a materializar-se, as expectativas positivas associadas à sua aprovação podem estimular a antecipação de investimentos na economia brasileira, tanto de natureza interna quanto de multinacionais. Em 2023, a agropecuária vai ser, basicamente, o único motor que continuará funcionando, preservando esperanças no futuro do país.