O Brasil tornou-se prisioneiro da armadilha do baixo crescimento. Nos últimos quarenta anos, o país se distanciou do objetivo de crescer mais rapidamente do que os ricos. Esse seria o caminho para, em algum ponto no futuro, integrarmos o grupo das nações desenvolvidas. Trilhamos esse caminho até a década de 70, mas fracassamos nos anos seguintes.
O insucesso deriva basicamente da queda sistemática da produtividade, fator essencial na geração de riqueza. Entre os anos 1950 e 1970, a produtividade cresceu à média anual de 4,2%. Nas três décadas seguintes, despencou: apenas 0,7%. Daí em diante, estagnou.
Aqui está a raiz do baixo dinamismo da economia. Estudos dos últimos tempos lançaram luzes sobre as causas do nosso insucesso, que derivam fundamentalmente dos seguintes fatores: baixa qualidade da educação, deficiências da infraestrutura de transportes, sistema tributário caótico, má alocação de recursos, intervenções equivocadas do Estado, economia excessivamente fechada, ausência de incentivos à inovação e uma longa crise fiscal que aumentou a percepção de risco e contribuiu para o elevado nível de taxas de juros. A Constituição de 1988 está na origem de grande parte dessas causas.
Muito já se discorreu sobre esse panorama desanimador, mas acaba de surgir uma obra que a meu ver é a mais ampla sobre tema tão complexo. Seu título: Reconstrução — O Brasil nos Anos 20. O livro foi organizado por Felipe Salto, João Villaverde e Laura Karpuska. Seus vinte capítulos foram escritos por vários autores, alguns já conhecidos do público. Todos são experientes no setor público ou na academia. Conhecimento da realidade é o que não falta.
“A discussão sobre o potencial de crescimento do país vai além das análises de temas econômicos”
As obras do gênero costumam dedicar-se à análise de temas associados à economia, particularmente os que envolvem o ambiente macroeconômico e as reformas microeconômicas, incluindo as relativas à regulação e à infraestrutura. O trabalho desse novo livro foi mais longe. Reúne, em um único lugar, uma ampla gama de ideias que se referem tanto ao objetivo de ampliar o potencial de crescimento do país quanto a outros temas igualmente relevantes.
O livro discute problemas e propõe ações para enfrentar nossos enormes desafios, a saber: o papel do Estado na economia e na sociedade, parlamentarismo e presidencialismo, sistemas eleitorais, federalismo fiscal, função da imprensa, verdade factual nas redes sociais e nas instituições, educação, saúde, direitos humanos, políticas para a infância, progressividade tributária, o Brasil na corrida climática global, integração social, habitação social e inserção internacional do país.
Embora a maioria dos autores seja composta de economistas, nenhum deles recorreu a modelos matemáticos. A linguagem é acessível ao leitor comum. Os organizadores foram bem-sucedidos em selecionar os temas e quem iria explorá-los. Como disse o sociólogo Celso Rocha de Barros em entusiasmada resenha, “um livraço”. Eu acrescentaria: imperdível!
Publicado em VEJA de 13 de abril de 2022, edição nº 2784