O PT continua aferrado a ideias equivocadas. A agremiação não absorveu lições da história, protagonizadas pelos partidos de esquerda europeus. A maioria deles nasceu no fim do século XIX e começo do século XX, atrelados às ideias marxistas da ditadura do proletariado e do controle dos meios de produção pelo Estado. Ao longo do tempo, influenciados por líderes lúcidos e pelo efeito didático de derrotas eleitorais, eles substituíram o velho ideário pela democracia representativa e pela adesão ao capitalismo de mercado, sob regulação do Estado e compromissos com políticas de bem-estar social.
O PT já se livrou do marxismo de seus intelectuais, que não impregnou o pensamento dos líderes oriundos do sindicalismo, caso de Lula. Não houve, todavia, o passo seguinte, o da adoção do capitalismo de mercado de seus congêneres europeus. É verdade que Lula abandonou grande parte dessas ideias em seu primeiro mandato, embora preservando a oposição à privatização de estatais. Continuou e aprofundou a política econômica de FHC, mantendo o equilíbrio macroeconômico. O Brasil pôde beneficiar-se do super ciclo de commodities que tornou a China a maior parceiro comercial do Brasil.
A resolução do Diretório Nacional do PT, divulgada nesta terça feira, 13, contém vários os equívocos; vale assinalar três deles. O primeiro é a ideia voluntarista de que a taxa de juros pode ser reduzida por pressão política. Isso deu errado recentemente na Argentina e na Turquia. Tampouco funcionou aqui em passado recente. A presidente Dilma mandou o Banco Central reduzir a taxa Selic para 7,25%. A inflação disparou e o país viveu suas pior recessão nos anos 2015 e 2016. A Selic voltou a subir e alcançou 14,25% nos últimos dias de seu governo. Os pobres foram os mais prejudicados.
O segundo erro é a investida de Lula e do partido contra a independência do Banco Central. Trata-se de tema que começou a ser pacificado há cerca de 50 anos, quando se percebeu a necessidade de separar os ciclos políticos dos da política monetária. Tal percepção se firmou a partir dos anos 1990. Todos os países ricos adotaram a ideia. Na América Latina, destaque-se os casos do Chile, da Colômbia e do México, governados por líderes de esquerda. Nenhum deles questionou o status institucional de seus bancos centrais. A resolução do diretório nacional do PT reafirmou sua oposição à ideia.
O terceiro erro é afirmar que a desindustrialização do Brasil decorreu das altas taxas de juros. Esqueceram que o governo Dilma, via BNDES, conduziu o mais amplo programa de crédito a juros abaixo das taxas de mercado. Nem por isso a desindustrialização foi interrompida. A desindustrialização, maior do que a esperada em processos universais de queda da participação da indústria no PIB, decorreu da perda de competitividade do setor. Isso se explica pelos custos associados ao caótico sistema tributário, à deficiente operação da logística, à má qualidade da educação da mão de obra e, sim, de taxas de juros mais altas (por razões que o espaço não permite analisar). A saída não é forçar a queda da taxa de juros na marra, mas reunir as condições políticas para atacar os verdadeiros problemas.
Para seu próprio bem e do Brasil, o PT precisa se modernizar.