Não existe idade máxima para uma criança ser amamentada. A recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS), referendada pelo Ministério da Saúde e Sociedade Brasileira de Pediatria, é que as mães amamentem seus filhos por até dois anos ou mais.
Apesar de a orientação ser clara, a amamentação prolongada é cercada de mitos e críticas. Mulheres que amamentam crianças mais velhas são costumeiramente criticadas por estranhos e até mesmo conhecidos. Uma das perguntas mais ouvidas é se ‘a criança não é velha demais para estar mamando’. A resposta para essa pergunta é não.
“Não existe uma data-limite para suspender a amamentação. Espera-se que o desmame ocorra naturalmente”, afirma Elsa Giugliani, presidente do Departamento Científico de Aleitamento Materno da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP).
Quem define esse limite é a mãe e o bebê. “Não há nenhum marcador cronológico. Se vai ser com 1 ano ou 3 anos, diz respeito apenas à relação da mãe com a criança. A amamentação tem que ser adotada enquanto estiver boa para os dois lados”, afirma o pediatra Carlos Eduardo Corrêa, o Cacá.
Mesmo assim existe muita confusão e informação incorreta cercando a idade máxima para amamentar uma criança. Não é verdade, por exemplo, que a amamentação atrapalhe a introdução alimentar dos bebês. “As pessoas se confundem porque existe a recomendação de amamentar exclusivamente com leite materno até os seis meses. Acabam achando que amamentar por seis meses é suficiente, mas não é”, afirma Elsa Giugliani.
Outro mito que perturba as mães que amamentam por mais tempo é que o leite materno deixa de oferecer nutrientes para a criança a partir de uma certa idade. “O leite materno continua sendo mais nutritivo que o leite artificial”, diz o pediatra Moises Chencinski, criador do movimento #EuApoioLeiteMaterno.
Para Chencinski, os mitos envolvendo a amamentação prolongada refletem um problema cultural. “Nossa sociedade acha que criança mais velha não deve ser amamentada. Mas o que é uma criança grande? É uma de 1 ou 3 anos? Uma de 10 quilos ou de 15 quilos?”, questiona ele.
Cacá lembra que existia um mito ligando leite materno à pobreza – menos popular antigamente, só os mais ricos conseguiam comprar leite artificial. “Amamentação é indiscutivelmente melhor do ponto de vista nutricional e imunológico, oferece proteção contra doenças infecciosas. Não tem nada a ver com ser um hábito de pobre.”
Esse mito está relacionado com a inserção da mulher no mercado de trabalho e expansão da indústria de leite artificial. “A partir das décadas de 60 e 70, as sociedades ocidentais começaram a reduzir o tempo de amamentação e isso passou a ser a regra. Mas quando se olha para a história, verificamos que antigamente se amamentava por dois anos ou mais”, afirma Elsa.
Outro mito é o de que a criança amamentada com leite materno vai ficar obesa. É justamente o contrário. “Estudos mostram que quanto mais tempo a criança se alimenta de leite materno, menor é o risco de obesidade e sobrepeso”, diz Chencinski.
Uma questão que atormentava muitas mulheres era a falta de apoio dos pais para o prolongamento da amamentação. “Mas isso está mudando e os pais estão cada vez mais se conscientizando da importância da amamentação”, afirma o pediatra.
É bom lembrar que leite materno não é só uma questão de alimentação, as crianças não mamam apenas porque sentem fome. A amamentação conforta e acalma os bebês, reforça os vínculos entre mãe e filho.