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Por que aderir (ou não) à cama compartilhada

Defensores do método dizem que o compartilhamento da cama incentiva a amamentação; sociedade de pediatria alerta para risco de morte súbita

Por Fabiana Futema Atualizado em 22 set 2017, 17h18 - Publicado em 22 set 2017, 10h21
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  • Admitir a prática da cama compartilhada – dividir a cama com o filho – ainda é um tabu dentro das famílias. Apesar das críticas, esse modelo de criação vem ganhando cada vez mais defensores. Esse é o caso do pediatra espanhol Carlos Gonzales, autor do livro Bésame Mucho – Como Criar Seus Filhos com Amor.

    Gonzáles, que tem três filhos, diz que a cama compartilhada traz benefícios para as mães e seus bebês. “Uma mãe que não dorme com seu filho é frequentemente uma pessoa esgotada, cansada, forçada a se levantar várias vezes durante a noite porque alguém a proibiu de dormir com o filho. É muito mais confortável compartilhar”, disse ele por e-mail ao blog Mãe Para Toda Obra.

    Mas quais são as críticas à cama compartilhada? A Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) não apoia a prática desse sistema em nenhuma fase da vida da criança. Segundo a entidade, a literatura científica associa o aumento do risco de morte súbita com a cama compartilhada. “Os bebês são expostos a sufocamento pelos travesseiros e lençóis dos pais ou mesmo pelo contato com o corpo dos adultos em sono profundo”, diz em nota Liubiana Arantes, presidente do Departamento Científico de Pediatria do Desenvolvimento e Comportamento da SBP.

    O pediatra Moises Chencinski, criador e incentivador do movimento #EuApoioLeiteMaterno,  diz que os estudos sobre o assunto não são definitivos. “Esses trabalhos não especificam se são casos envolvendo prematuros, se a criança dormia no sofá ou na cama ou se os pais utilizavam drogas ou álcool.”

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    Para os defensores do método, muitos pais já compartilham a cama sem perceber. Gonzáles cita um estudo sueco que indica 40% das crianças de até 4 anos dormem na cama dos pais ao menos duas noites por semana. Aos 10 anos, esse porcentual cai para 12%.

    “Se se perguntar quem compartilha, poucos vão dizer que sim. Mas se perguntar se a criança vai para a cama dos pais no meio da noite, esse porcentual vai aumentar”, diz o pediatra Carlos Eduardo Corrêa, o Cacá.

    Segundo Cacá, a dificuldade para aceitar esse modelo envolve vários tabus. “Um deles envolve a sexualidade do casal, que não dispõe apenas da cama e hora de dormir para se relacionar. Existe uma outra questão: por que os pais dormem juntos? São adultos, não precisariam mais de companhia para dormir. Por que exigir então que a criança durma sozinha? Não tem lógica.”

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    Chencinski lembra que os recém-nascidos humanos são os que nascem mais dependentes dos pais. “Eles têm o desenvolvimento mais lento, e dependem muito do estímulo e contato com a mãe. Para se sentir mais confortado e seguro, é recomendável ter sempre alguém junto dele. Por isso a cama compartilhada e o sling funcionam tão bem.”

    Cacá e Moisés afirmam que a cama compartilhada incentiva o aleitamento materno. “Amamentar é um trabalho cansativo, exige muito da mãe. Compartilhar a cama facilita”, diz Cacá.

    Quando tirar a criança da cama

    Gonzáles diz que os pais não precisam se preocupar com a hora de tirar a criança da cama compartilhada, pois ela sai por conta própria. “Já ouviu falar de alguma uma criança que não quis sair nunca da cama dos pais? Nem aos 15 ou 30 anos? Quando a criança quiser sair, os pais não conseguirão mais mantê-la na mesma cama.”

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    Para Cacá, a cama compartilhada deve ser adotada enquanto estiver boa para todas as partes: pais e criança. “Quando deixar de ser bom, é hora de repensar. É o limite da relação dos dois. Mas não precisa ser tudo ou nada. Pode começar a tirar aos poucos, colocar outra cama ao lado da cama dos pais.”

    Vencido o tabu do compartilhamento, há motivo para sentir-se culpada por não querer dormir com o filho? Lógico que não. Compartilhar é um direito, não uma obrigação, segundo Gonzáles.

    Os riscos

    De acordo com orientação da SBP, o recém-nascido deve dormir em berço próprio no quarto dos pais até os 6 meses. Após essa fase, a recomendação é que o bebê passe a dormir no próprio quarto. “Se o bebê corre risco de vida, não devemos expô-lo a essa situação, pois o resultado pode ser irreversível”, afirma a entidade.

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    Para Liubina, os benefícios do compartilhamento para a amamentação não superam os riscos de morte súbita. “Apesar de a cama compartilhada possuir possíveis benefícios sobre prolongamento do aleitamento materno e vínculo afetivo, esses são também facilmente alcançados quando os pais são envolvidos e recebem suporte efetivo, com informações relevantes e incentivo ao contato e amamentação saudáveis.”

    Se mesmo assim a família optar pela cama compartilhada, a SBP faz algumas recomendações. “[A família] deve utilizar berços acopláveis, que podem ser colocados na cama dos pais ou ao lado dos pais, os quais permitem fácil acesso do toque e dos cuidados efetivos, mantendo boa nutrição, carinho e vínculo com afeto.”

    Apesar dos alertas, Moises diz que a cama compartilhada já é extremamente difundida entre as mães que amamentam. “Como é uma prática comum, o que se deve fazer é ensinar a fazer com segurança.”

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    Entre as práticas de segurança citadas por ele estão:

    E a independência?

    A psicóloga Renata Soifer Kraiser, autora do livro “O Sono do Meu Bebê”, não é adepta da cama compartilhada. Mas por motivos diferentes da SBP.

    Ela diz que a criança deve aprender a dormir sozinha desde cedo. “Essa é a primeira coisa que aprendemos a fazer de forma independente. Além da questão da segurança, é bom lembrar que amor e independência podem e devem andar juntos.”

    Para Renata, dividir o leito com a criança pode se tornar uma questão difícil no futuro. “Quando isso acontece, temos uma série de desdobramentos que podem se tornar complicados tanto para a criança como para a família.”

     

     

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