Depois da enxurrada de novíssimas denúncias contra Aécio Neves, muita gente, inclusive dentro do próprio PSDB, dá o senador tucano como político morto, sem futuro, fora das eleições de outubro.
De duas, uma: ou essa turma tem memória fraca, ou apenas gostaria que ele estivesse fora da política.
Virou réu? Grande novidade. Quantos réus são e serão candidatos?
Está desmoralizado?
Até parece.
Enfraqueceu-se?
Sim, está enfraquecido.
Paulo Maluf também esteve. Foi eleito e reeleito até ser preso outro dia por crimes cometidos há 50 anos.
Diz-se o mesmo sobre Lula desde que foi preso, em 7 de abril.
Que Lula está inelegível pela lei da ficha limpa, por ele sancionada quando era presidente.
Sim, está inelegível.
Assim como estava Demóstenes Torres, cassado em 2012.
A inelegibilidade do ex-senador por Goiás, vai até 2027 (oito anos depois do fim do mandato interrompido, que iria até 2019).
É o que diz a mesma lei.
Mas aí entrou o Poder Judiciário confrontando abertamente o Poder Legislativo.
O Supremo Tribunal Federal decidiu que a lei da ficha limpa não vale pra Demóstenes, que era do DEM e hoje está filiado ao PTB de Goiás.
E ele vai ser candidato.
Ora, se Demóstenes mantém seus direitos políticos, se a ex-presidente Dilma Rousseff, impedida pelo Parlamento, obteve uma “exceção” também junto ao Supremo e manteve sua elegibilidade (ela anuncia candidatura a cargo legislativo por Minas Gerais), por que levaríamos em conta o que diz a lei, ou, no caso de Dilma, o que diz a própria Constituição?
O Supremo, que manda no Brasil como jamais mandou, vem dando um golpe atrás do outro nas normas jurídicas com as quais concordou em passado recente.
Somos um país sem lei e cheio de corruptos em pleno exercício do cargo.
A maioria com foro privilegiadíssimo, seja no Supremo, seja no Superior Tribunal de Justiça e outras cortes superiores.
Acredita-se que o Tribunal Eleitoral negará registro a quem está condenado em segunda instância (Lula), ou cassado (Demóstenes).
Mentira.
Eduardo Paes, ex-prefeito do Rio, hoje no DEM, está inelegível por ordem do Tribunal Regional Eleitoral.
Mesmo assim, quando decidiu abandonar o combalido PMDB fluminense, foi disputado pelo PSDB, que o perdeu para o partido de Rodrigo Maia.
Por que os partidos cortejariam um político inelegível?
Porque todos sabem que basta um recurso para devolver-lhe o direito de aparecer na cédula eleitoral.
O Supremo, com toda sua pompa e circunstância, infindáveis sessões transmitidas ao vivo pela TV Justiça, anula tudo.
De novo: sorte, muita sorte termos a Lava-Jato.
Contamos com um excelente quadro de promotores e procuradores (com as exceções de sempre, certo? Demóstenes Torres é procurador em Goiás!).
A Polícia Federal segue desconcertantemente independente.
E, num estado ou outro (Paraná, Rio Grande do Sul ou Rio de Janeiro), despontam juízes de primeira e segunda instância dispostos a enfrentar a metástase da corrupção.
Nem que seja para ver o Supremo desfazer tudo depois, escancarando à opinião pública a insegurança e a confusão jurídicas em que estamos metidos.
Portanto, pessoal, preparem-se.
Não é exagero supor que Aécio e Lula vêm aí, sim.