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Transtorno bipolar: o que há de novo no velho lítio?

Medicamento usado desde a década de 1950 ainda é o mais eficiente no longo prazo para evitar suicídio em pacientes com essa condição

Por Alexandrina Meleiro*
Atualizado em 21 set 2023, 16h12 - Publicado em 19 set 2023, 09h00

O transtorno bipolar é uma doença mental de elevado impacto no indivíduo, na família e na sociedade. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), é considerada causa importante de incapacidade em pessoas na faixa etária entre 15 e 44 anos ao redor do planeta.

Caracteriza-se pela alternância de episódios de humor depressivo e maníaco (eufórico ou irritável) com períodos de humor relativamente estável (eutimia). Além disso, afeta o sono, o nível de energia, a atividade psicomotora, o apetite e o processamento das informações sobre si mesmo e o ambiente, podendo elevar o risco de suicídio.

O tratamento deve focar a remissão dos sintomas, a prevenção de recaídas (piora do episódio vigente) e recorrência (aparecimento de novos episódios), com redução dos déficits cognitivos e, consequentemente, boa recuperação funcional. Nessa linha, também é crítico diminuir os impactos sociais e pessoais, que influenciam muito a qualidade de vida.

O tratamento do transtorno bipolar envolve as terapias biológicas (farmacológicas e não farmacológicas) e as intervenções psicossociais, como as psicoterapias e a psicoeducação. A psicofarmacoterapia baseia-se principalmente no uso de estabilizador de humor, classe representada pelo carbonato de lítio e alguns anticonvulsivantes, além de antipsicóticos de segunda geração, que são escolhidos pelo psiquiatra de acordo com a apresentação clínica e a resposta prévia de cada paciente.

O carbonato de lítio tem sido o tratamento farmacológico padrão para transtorno bipolar por mais de 70 anos. Ele foi introduzido em 1949 para a doença maníaco-depressiva, hoje denominada transtorno bipolar. Ao longo do tempo, estudos vêm demonstrando o efeito protetor do lítio na prevenção do suicídio.

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O suicídio é um evento complexo e multifatorial causado por interação entre fatores biológicos, psicológicos, culturais e ambientais. No transtorno bipolar, especialmente diante de um tratamento inadequado, o risco de suicídio é alto. Poucas drogas, incluindo carbonato de lítio, antidepressivo, clozapina e escetamina, foram sugeridas como protetoras contra o suicídio.

Entre elas, o lítio tem a evidência mais robusta, e uma recente revisão de ensaios controlados randomizados para transtornos do humor endossa o efeito protetor da substância nesse sentido. O carbonato de lítio diminuiu o risco de suicídio em pacientes com transtorno bipolar durante o tratamento de longo prazo. Também em pacientes com depressão unipolar, o lítio foi associado a um risco reduzido de suicídio e número total de mortes em comparação com o placebo.

Evidências indicam que o lítio pode possuir uma ação anti-suicídio independentemente das propriedades na melhora do humor. Pesquisas apontam que uma redução na impulsividade e agressividade pode ser a chave para esse efeito, uma vez que estão ligadas a tendências suicidas.

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Ao longo dos anos houve perda da popularidade do carbonato de lítio por influência das propagandas de indústrias farmacêuticas, com lançamentos de outros psicofármacos. Uma nova geração de psiquiatras tem menos experiência com o uso desse medicamento. Mas ele continua tendo um importante papel no manejo do transtorno bipolar.

É uma droga que, como outras, requer prescrição e acompanhamento psiquiátrico de perto, devido a seus efeitos adversos, que precisam ser monitorados. Mas, na posse dos dados científicos e com a capacitação dos profissionais, temos à disposição uma das ferramentas mais efetivas para resguardar pacientes com transtorno bipolar no longo prazo.

* Alexandrina Meleiro é psiquiatra, doutora pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) e membro do Conselho Científico da Associação Brasileira de Familiares, Amigos e Portadores de Transtornos Afetivos (ABRATA) 

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