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Quer viver mais e melhor? Desvende seu histórico médico familiar

O histórico médico de nossos familiares pode sinalizar um risco aumentado para diversos problemas de saúde como câncer, diabetes e doenças raras

Por Salmo Raskin
Atualizado em 2 mar 2017, 13h26 - Publicado em 24 jan 2017, 12h30
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  • “Um homem de gênio é produzido por um conjunto complexo de circunstâncias, começando pelas hereditárias, passando pelas do ambiente e acabando em episódios mínimos de sorte.” Fernando Pessoa

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    Hereditariedade! Aquilo que recebemos de gerações anteriores, incluindo coisas boas e outras nem tanto. Antes de falarmos da importância do histórico familiar na saúde e na doença, é importante entender e desmistificar alguns conceitos básicos:

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    Então, o que devemos observar sobre a saúde e doença de nossos familiares, que deveria “acender uma luz amarela” sinalizando que podemos estar em risco maior?

    Câncer e hereditariedade

    Apesar de a hereditariedade como fator de risco para o desenvolvimento de câncer representar apenas uma pequena fração do total de casos de câncer, como a doença é muito frequente, o número de pessoas afetadas por casos hereditários não é desprezível. Mais do que a prevalência de casos hereditários, o risco de desenvolver câncer entre os predispostos hereditariamente e entre seus familiares pode ser alto. No que se refere à hereditariedade do risco de vir a desenvolver certos tipos de câncer, como o de mama, ovário, intestino, próstata, pâncreas, pele ou útero (endométrio), os principais sinais de alerta são:

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    Doenças frequentes e hereditariedade

    A hereditariedade não está apenas no risco de virmos a desenvolver câncer. A história familiar é uma ferramenta importante para chamar a atenção para doenças que têm grande impacto na saúde pública, incluindo doença cardiovascular, derrame (AVC) e diabetes. Estudos feitos no Estado de Utah, nos EUA, demonstraram que apenas 14% das famílias daquela região tinham um histórico positivo para doença coronariana, porém elas representavam 72% dos eventos coronarianos precoces (antes dos 50 anos de idade) e 48% daqueles que tinham doença coronariana cardíaca em qualquer idade. No que se refere ao risco de derrame (AVC), este parece ser duas vezes maior para aqueles que têm um histórico familiar, quando comparado com aqueles que não têm tal histórico. Um estudo demonstrou que 26% dos participantes que tinham tido um AVC com mais de 45 anos de idade, informaram sobre uma história de derrame em um dos pais, e 12% descreveram um irmão que já teve derrame.

    Outra doença frequente para cujo tratamento adequado/diagnóstico é importante conhecer a história familiar é o diabetes. Um estudo demonstrou que acrescentar a simples informação da história familiar a uma análise de predição de risco foi capaz de projetar novos diagnósticos em mais de 600000 pessoas na população americana. Ainda não existem testes laboratoriais úteis para identificar o componente genético dessas doenças, daí a importância de obter a história familiar e dar importância a ela.

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    Doenças raras e hereditariedade

    Enquanto o componente familiar descrito acima nas doenças mais comuns é a somatória da hereditariedade com o meio ambiente que as famílias compartilham, em um grupo de doenças mais raras, porém muito numerosas, a história familiar aponta para uma doença genética clássica, com componente genético bastante determinante. Estamos falando de um grupo de mais de 10 000 doenças hereditárias!

    Você já ouviu falar em fibrose cística, distrofias musculares, doença de Huntington, hemofilia, mucopolissacaridoses, doença de Fabry, porfirias, albinismo? São nomes pouco conhecidos da população em geral, mas muito conhecidos de quem tem na família uma dessas doenças tipicamente hereditárias, em que a genética fala mais alto que o meio ambiente. Saber se um familiar tem ou teve o diagnóstico de uma dessas doenças é fundamental para o aconselhamento genético. Por outro lado, obter essa informação junto aos familiares pode ser delicado, pois não raro isso implica rememorar momentos de tristeza que os familiares muitas vezes preferem esquecer; mas, respeitados os limites impostos por cada pessoa, são informações preciosas sobre problemas de saúde que ninguém quer ver repetidos dentro de sua família.

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    É fato incontestável que a tecnologia está nos aproximando rapidamente do momento em que poderemos, com um simples exame de sangue, descobrir se estamos ou não em risco de desenvolver ou de transmitir para futuras gerações esses riscos. Mas enquanto esse tipo de “check-up genético” ainda tem limitações técnicas, éticas e de acessibilidade, podemos, com uma atitude tão simples e barata quanto uma investigação familiar, tentar nos prevenir contra muitos desses problemas. Uma das maiores iniciativas para angariar dados familiares sobre saúde e doença, o Family Healthware Impact Trial, há pouco tempo concluiu que esse tipo de atividade tem um efeito multiplicador, fazendo com que o tema se torne cada vez mais discutido no ambiente familiar. Basta que alguém da família tome a iniciativa!

    Segundo a Organização Mundial de Saúde, 85% dos casos de doença cardíaca, derrame e diabetes tipo 2, e 40% dos casos de câncer, podem ser prevenidos eliminando fatores de risco. Hereditariedade não é destino! Conhecer os seus riscos familiares pode propiciar a detecção precoce de um problema de saúde, e até a prevenção dele. Então, não perca tempo: aproveite este período de férias, quando as famílias se reúnem mais e com mais tempo, e pergunte ao seu pai, sua mãe, seus tios, seus avós, a respeito das doenças e até das causas de morte na família. Se for possível, tente encontrar e obter informações nos atestados de óbito e diários ou cartas dos familiares. Dê atenção especial às informações sobre causas de morte, idade em que as doenças foram diagnosticadas, idade do óbito e ascendência étnica dos seus ancestrais. Investigue se há casos de casamentos entre parentes, de morte “por causa desconhecida”, em especial que tenham ocorrido ainda na infância. Anote tudo e leve na próxima consulta com o seu médico! E exija dele uma atenção especial a essas informações que você trouxe a respeito de sua família.

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    Uma atitude simples e barata como essa talvez possa trazer a você e a seus familiares qualidade e muitos anos de vida!

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    Aproveito para informar os locais onde é possível fazer aconselhamento genético no Brasil. A Sociedade Brasileira de Genética Médica disponibiliza uma lista de instituições onde é feito aconselhamento genético (https://sbgm.org.br/servicos.asp), uma lista de médicos geneticistas por estado (https://sbgm.org.br/socios.asp), assim como uma lista de laboratórios especializados em exames de genética (https://sbgm.org.br/laboratorio). Para informações sobre uso de medicações, drogas, infecções na gravidez, a SBGM possui uma rede gratuita de informação sobre agentes teratogênicos (https://gravidez-segura.org) ou pelo telefone (51) 3308-8008.

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    (Gilberto Tadday/VEJA)

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