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Por que ainda há tantos casos de câncer de mama

Estamos nos últimos dias de outubro, mês que se coloriu de rosa nos últimos tempos simbolizando a luta contra o câncer de mama. Apesar dos avanços no tratamento e diagnóstico, o câncer de mama ainda é um grave problema de saúde, com milhares de casos. Estima-se que 459 000 mortes ocorrerão em decorrência da doença […]

Por Marianne Pinotti
Atualizado em 30 jul 2020, 21h27 - Publicado em 29 out 2016, 12h00
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  • Woman in bra with breast cancer awareness ribbon

    Estamos nos últimos dias de outubro, mês que se coloriu de rosa nos últimos tempos simbolizando a luta contra o câncer de mama. Apesar dos avanços no tratamento e diagnóstico, o câncer de mama ainda é um grave problema de saúde, com milhares de casos. Estima-se que 459 000 mortes ocorrerão em decorrência da doença somente este ano. Além disso, tanto a incidência quanto a mortalidade relacionada aumentaram em 18% desde 2008. Estima-se que atingiremos 3,2 milhões de novos casos em 2050; no Brasil não é diferente, e o Instituto Nacional de Câncer (INCA) prevê 57 960 novos casos com 14 388 mortes para o ano de 2016.

    Excetuando-se os 5% de neoplasias familiares, genéticas (mutações nos genes BRCA1, BRCA2, síndrome de Cowden e Li-Fraumeni), os demais casos de câncer de mama decorrem prioritariamente do ambiente e hábitos de vida, existindo vários fatores envolvidos nesse processo que podem ser divididos em reprodutivos, ambientais e energéticos (ingesta x perda de energia).

    Hábitos de vida

    Apresentam risco elevado aquelas mulheres que vivem na metrópole, não têm filhos ou os têm tardiamente, não amamentam, fumam, ingerem bebidas alcoólicas, estão com sobrepeso, são sedentárias, estressadas e usam hormônios. Tudo relacionado ao que chamamos de “modernidade”. Outros fatores como energia eletromagnética, radiação, alimentos industrializados com acidulantes e estabilizantes, componentes químicos contidos no PVC são alvos de pesquisa e parecem ter relação com o surgimento de vários tipos de câncer, inclusive o de mama.

    A verdadeira prevenção (primária) seria mudar essa tendência ao mudarmos hábitos. Da mesma forma que o sexo seguro e a vacina do vírus de HPV evitam câncer de colo uterino ou parar de fumar evita câncer de pulmão. Como é utópico esperar que elas atendam o pedido que as mulheres se mudem para o campo, tenham muitos filhos desde jovens e amamentem prolongadamente, o que nos resta, além de dar orientações sobre alimentação, ingesta de álcool, exercícios físicos, manutenção do peso e evitar o uso excessivo de hormônios, é fazer detecção e diagnóstico precoces.

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    Na década de 80, José Aristodemo Pinotti e Ellen Hardy, na Unicamp, estudaram a relação entre número de ciclos menstruais ovulatórios e câncer de mama, e chegaram à conclusão de que quanto mais ciclos uma mulher apresenta em sua vida, maior o risco; recentemente o Instituto Europeu de Oncologia, em Milão, publicou uma metanálise numa revista de alto impacto em que comparou fatores reprodutivos com risco de câncer de mama e conclui que alguns subtipos realmente apresentam essa relação.

    Detecção precoce 

    Quando descobrimos tumores menores do que 1 centímetro, em 90% dos casos conseguimos conservar a mama e curar a doença. Em que pese essa aparente facilidade de solução, o diagnóstico precoce ainda é um desafio no Brasil – cerca de 40% dos casos são diagnosticados com tumores de 5 centímetros ou mais, obrigando a retirada da mama e com possibilidades de cura abaixo de 30%.

    Nossa mais importante arma para a detecção precoce é a mamografia anual, a partir dos 40 anos, como preconizam a Sociedade Brasileira de Mastologia, o Colégio Americano de Radiologia (ACR), a Sociedade Americana de Oncologia Clínica (ASCO) e a Society of Breast Imaging (SBI), esse exame associado ao exame clínico realizado por ginecologista ou mastologista compõem o rastreamento do câncer de mama.

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    Há um complexo caminho a percorrer da detecção ao diagnóstico diante da presença de mamografia alterada ou da percepção de um nódulo na mama, a lesão deve ser rapidamente elucidada. Para isso é de fundamental importância um serviço de saúde bem organizado, com equipe multidisciplinar devidamente treinada formada por mastologistas, radiologistas e patologistas, além de equipamento de ponta. A amostra é preferencialmente obtida através de biópsia percutânea (punção aspirativa, core biopsy ou mamotomia). O ideal é que ocorra verdadeira sintonia entre os diversos profissionais para discussão do caso, definição da melhor área de biópsia e análise conjunta dos resultados.

    A melhor propaganda para o diagnóstico precoce é ver a uma amiga que o fez, curou-se e não perdeu a mama. Várias experiências exitosas aconteceram e existem no Brasil. No Hospital Pérola Byington, na década de 90, fiz parte da equipe do professor Pinotti que organizou o Programa de Atenção Integral à Saúde da Mulher. Foram mais de 400.000 pacientes atendidas com ações de educação para a saúde, prevenção, diagnóstico precoce e tratamento para as patologias mais frequentes que atingem as mulheres e, entre elas, o câncer de mama, com resultados surpreendentes, que nortearam políticas públicas para vários países. Outro exemplo bem-sucedido e atual é o Programa Integrado de Controle do Câncer de Mama (PICCM), que coordeno desde 2009, em uma parceria do Ministério da Saúde, Hospital Oswaldo Cruz, Secretaria Municipal de Saúde (SMS) e a Escola de Ginecologia e Mastologia Prof. José Aristodemo Pinotti.

    É verdade que há muita complexidade envolvida no diagnóstico precoce do câncer de mama, os desafios são grandes, mas, se os os vencermos, passaremos também a economizar sofrimento e vidas.

    Dra. Marianne Pinotti

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