O tempo cronológico é o maior inimigo das mulheres quando o assunto é fertilidade. Para a mulher, há uma queda natural nas chances de concepção de um filho após os 30 anos e de forma mais acentuada após os 35 anos, decorrente do fato de ela já nascer com todo o estoque de óvulos que será utilizado durante toda a vida reprodutiva.
Ao longo do tempo, há queda da quantidade e da qualidade dos óvulos, com mais erros genéticos, dificultando a gestação e aumentando o risco de abortos espontâneos. Por esse motivo para mulheres que decidiram adiar a gestação, por motivos pessoais, emocionais, financeiros ou profissionais, a estratégia de congelamento de óvulos é uma boa opção para diminuir o risco e preservar a fertilidade. Por isso, vamos esclarecer alguns fatos, dúvidas e curiosidades sobre o procedimento:
· Durante a pandemia, esse procedimento experimentou um crescimento nunca visto por aqui. A criopreservação é uma técnica de congelamento que pode ser feita em óvulos, tecido ovariano, espermatozoides e embriões. Na temperatura de -196ºC, esses organismos mantêm seu metabolismo completamente inativado, mas preservando um desenvolvimento potencial e viabilidade.
· Embora o espermatozoide e os embriões sejam fáceis de congelar, o óvulo é a maior célula do corpo humano e contém uma grande quantidade de água. Quando congelados, formam-se cristais de gelo que podem destruir a célula. Com o passar dos anos, aprendemos que devemos desidratar o ovo e substituir a água por um “anticongelante” antes do congelamento para evitar a formação de cristais de gelo.
· O congelamento de óvulos pode ser benéfico por uma série de razões para as mulheres que desejam preservar sua fertilidade para o futuro, incluindo: motivos médicos, como aquelas pacientes com diagnóstico de câncer ou endometriose, que podem afetar negativamente a capacidade de engravidar; mulheres que desejam ou precisam adiar a procriação para buscar objetivos educacionais, profissionais ou outros objetivos pessoais; ou então para mulheres com histórico familiar de menopausa precoce. Algumas formas de menopausa precoce (falência ovariana prematura) estão geneticamente ligadas. O congelamento de óvulos oferece uma chance de preservar os óvulos antes que eles se esgotem.
· Quanto mais jovem a mulher realizar o congelamento, maior será a chance de o óvulo gerar um bebê. Então, não existe uma idade que contraindique o congelamento, mas o ideal é que seja realizado até os 35 anos, pois assim as taxas de sucesso são maiores. Mas é possível congelar os óvulos até 41 ou 42 anos. Após os 43 anos, a probabilidade de o óvulo gerar um bebê é muito reduzida. Não é impossível, mas talvez o custo-benefício já não valha tanto a pena. Então, o ideal é que o procedimento seja feito até os 35 anos. Mas vale o ditado ‘antes tarde do que mais tarde’.
· No processo, a fim de recuperar óvulos para congelamento, a paciente passa pelo mesmo processo de injeção de hormônio que a fertilização in vitro. A única diferença é que após a retirada dos óvulos, eles são congelados por um período de tempo antes de serem descongelados, fertilizados e transferidos para o útero como embriões.
· Leva aproximadamente três semanas para completar o ciclo de congelamento de óvulos e é consistente com os estágios iniciais do processo de fertilização in vitro, incluindo: uma a duas semanas de pílulas anticoncepcionais para desativar temporariamente os hormônios naturais (esta etapa pode ser ignorada se houver urgência, como antes da terapia contra o câncer); 9 a 10 dias de injeções de hormônio para estimular os ovários e amadurecer vários óvulos. Depois que os óvulos amadurecem adequadamente, eles são removidos com uma agulha sob orientação de ultrassom. Este procedimento é feito sob sedação intravenosa e não é doloroso. Os óvulos são congelados imediatamente.
· Quando a paciente está pronta para tentar a gravidez (pode ser vários anos depois), os óvulos são descongelados, injetados com um único espermatozoide para obter a fertilização e transferidos para o útero como embriões. Importante frisar que de acordo com a recente Resolução Nº 2.294 do Conselho Federal de Medicina, quanto à criopreservação, ou o congelamento, o número total de embriões gerados em laboratório não poderá exceder a oito. Antes não havia essa limitação.
· Você deve estar se perguntando, talvez, sobre a “data de validade” desses óvulos após congelados. Com base em evidências científicas em engravidar com embriões congelados – em um caso o embrião foi congelado por 27 anos – estamos confiantes de que o armazenamento de longo prazo de óvulos congelados não resulta em nenhuma diminuição da qualidade.
· As expectativas são de que as taxas de gravidez de óvulos congelados dependam da idade da mulher no momento em que ela congela seus óvulos, mas não serão afetadas pela idade em que ela voltará a usá-los.
· Esse é um procedimento seguro. O maior estudo publicado com mais de 900 bebês de óvulos congelados não mostrou aumento na taxa de defeitos congênitos quando comparado à população em geral. Além disso, os resultados de um estudo não mostraram taxas aumentadas de defeitos cromossômicos entre embriões derivados de óvulos congelados em comparação com embriões derivados de óvulos frescos. Em 2014, um novo estudo mostrou que as complicações na gravidez não aumentaram após o congelamento dos óvulos. Também houve mais de 300.000 crianças nascidas em todo o mundo de embriões congelados usando principalmente técnicas de criopreservação de congelamento lento, sem um aumento de defeitos congênitos.
· Hoje em dia já é possível também que os melhores embriões sejam selecionados para implantação no útero por meio de testes genéticos. Além disso, os embriões podem ser cultivados em laboratório até estágios mais tardios, o que garante maiores chances de sobrevivência dentro do útero. Através da escolha assertiva, as chances de gravidez são muito maiores e são necessários que menos embriões sejam implantados no útero, o que reduz o risco de múltiplos bebês.
De qualquer maneira, o melhor a fazer para a preservação, é buscar ajuda de um médico especialista em Reprodução Humana.