Quando a tumba de Tutancâmon foi descoberta, em 1922, o mundo soube dos detalhes da vida do jovem príncipe que subiu ao trono egípcio em 1333 A.C. com apenas 9 anos. O legado de um faraó e seu desejo de cristalizar a divindade que lhe era atribuída por meio do processo da mumificação colocavam os monarcas egípcios – além de Tutancâmon, Ramsés II e Amenhotep III, por exemplo – na esfera de seres sagrados que seriam celebrados pela eternidade. Assim, há mais de três mil anos, eles acreditavam que atingiriam seus objetivos: a imortalidade. Nunca ser esquecido é a única forma de não morrer.
No livro Homo Deus, o historiador israelense Yuval Harari coloca a morte como “um problema técnico que ainda não resolvemos” e que a imortalidade buscada pelo homem está a algumas décadas ou pouco séculos a frente. Como técnico e estudioso, acredito nesta teoria. Porém, ainda temos um longo, muito longo caminho.
Atualmente nós temos atrasado a morte com a benevolência de outros que, de alguma maneira, sacrificaram-se. Explico em termos práticos. Pacientes com doenças graves passíveis de serem tratadas por meio de transplantes de órgãos são submetidos ao procedimento com a doação vital, de um parente ou amigo (doação intervivos), ou de uma pessoa que teve a infelicidade de falecer devido a um trauma craniano ou a um acidente vascular cerebral extenso, e que, em vida, foi gentil e comunicou a família que seria uma eventual doadora.
Não são faraós, não são semideuses, mas deixam um legado gigante, que salva até oito vidas e pode melhorar a vida de outros três. Com o ato da doação de órgãos, a expectativa de vida do paciente retorna praticamente à mesma de uma pessoa não transplantada graças aos esquemas de imunossupressão atuais usados para evitar que o corpo rejeite o órgão transplantado.
Nesta semana do dia 27 de setembro, celebramos o “Dia Nacional da Doação de Órgãos” data também dos santos Cosme e Damião, médicos que ganharam a santidade após o relato de que teriam realizado um transplante de perna, retirada de um etíope morto, para substituir a perna doente e necrótica do diácono Justiniano enquanto ele dormia.
No entanto, devido à pandemia, a doação de órgãos no Brasil foi cerca de 20% menor em relação a 2019, apesar dos vários esforços de todas as equipes de procura e captação de órgãos. Isso impactou a lista de pacientes que aguardam o transplante de órgãos sólidos: fígado, rins, coração, pulmões, pâncreas e intestino. Mas, como meros mortais, todos nós podemos contribuir para que o legado da vida seja possível entre nós, repito, entre nós. Basta comunicar à sua família que você é doador.
Boa semana da Doação a todos!