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É preciso ter medo da atividade física após um infarto?

Noção de que exercícios fazem mal ao peito de quem passou por problemas cardíacos caiu por terra. Mas há recomendações para garantir a segurança

Por Edmo Atique Gabriel*
21 abr 2023, 12h00
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  • O exercício físico é uma estratégia mais natural e menos custosa para prevenir doenças do coração como também para melhorar a qualidade de vida das pessoas que estão tratando uma doença cardíaca já estabelecida. Hoje a ciência sabe disso, mas nem sempre tal noção foi bem aceita.

    Houve uma fase de grande rejeição à atividade física: ela era encarada como uma suposta forma de agravar as doenças do coração. O conceito antigo dizia que o músculo cardíaco, após um evento cardiovascular como um infarto, não suportaria e não se adaptaria adequadamente à prática regular de exercícios.

    Os estudos evoluíram e, para o bem de todos, esse conceito foi superado. Nos dias atuais, a reabilitação cardíaca inclusive exige um protocolo individualizado de atividades físicas.

    Analisando a doença cardiovascular do ponto de vista epidemiológico e financeiro, as estatísticas demonstram que cerca de 64 milhões de pessoas ao redor do mundo já se encontram numa fase avançada das diferentes enfermidades cardíacas, o que aumenta a demanda de medicamentos e procedimentos e a necessidade e o tempo de hospitalização. Tudo isso extrapola a previsão de gastos pelo sistema de saúde público e privado.

    Quando se fala em atividade física, precisamos entender que não estamos nos referindo necessariamente a esportes de grande impacto, altíssima exigência física, atividades de exaustão ou que levem à hipertrofia muscular ou ao emagrecimento. Por definição, atividade física consiste em qualquer movimento do corpo que exija trabalho da musculatura e gasto de energia.

    Tal entendimento é fundamental para derrubar aquele conceito antigo, que contraindicava atividade física para uma pessoa cardiopata por uma questão de precaução quanto a eventuais sobrecargas. Quando há liberação médica e orientação profissional, o paciente pode, sim, se exercitar.

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    Contraindicações

    No final da década de 1990, a Associação Americana do Coração estabeleceu alguns critérios para restrição de atividade física em algumas situações. As contraindicações consideradas absolutas foram aquelas que representam doenças com risco de vida e que estão ainda em progressão e ainda sem um tratamento definitivo, como infarto agudo do coração nas últimas 48 horas do evento, arritmias agudas com intensa instabilidade da pressão arterial, angina (dor no peito) de difícil controle, estreitamento de válvula cardíaca com sintomas associados e embolia pulmonar aguda.

    As contraindicações relativas foram doenças que estão em progressão, mas que podem apresentar uma piora imediata e risco de vida, mediante a realização de uma atividade física, como estados de desidratação (pessoas apresentando frequentes episódios de diarreia e vômitos) e hipertensão arterial severa.

    Quando se pensa em doença cardiovascular, certamente a condição mais temida é a insuficiência cardíaca. De acordo com a progressão dos sintomas e a constatação da perda quantitativa e qualitativa de força do coração, em exames como teste cardiopulmonar e ecocardiograma, a insuficiência do coração pode ser mensurada e, num primeiro momento, gerar temor quanto a praticar qualquer atividade física.

    No entanto, com base no conceito de que um programa individualizado de atividade física pode ser benéfico até nesse público, desde que as particularidades de cada pessoa sejam rigorosamente respeitadas, pesquisadores japoneses avaliaram cerca de 100 mil pacientes e mostraram resultados favoráveis em relação aos exercícios.

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    Nessa pesquisa, verificou-se que uma simples caminhada de pelo menos 1 hora por dia pode reduzir de forma significativa o risco cardiovascular causado pela insuficiência do coração. Na população masculina avaliada no estudo, a prática de atividades esportivas, numa intensidade leve a moderada, pôde reduzir até 20% o risco atribuído à doença cardíaca.

    Papel na reabilitação

    Quando se discute sobre a importância da atividade física para a reabilitação de problemas cardiovasculares, a questão de movimentar e ativar os músculos é apenas um detalhe do processo. Não basta saber o que fazer e receber orientação; se não houver engajamento, motivação, autocrítica e consciência comportamental, as coisas não evoluem.

    As pessoas precisam mudar seu estilo de vida e focar no compromisso de manter uma rotina de atividades físicas, sempre respeitando seu limites e obedecendo às recomendações médicas.

    Pesquisadores espanhóis propuseram recentemente uma discussão muito relevante sobre a “prontidão” para o exercício físico. Esta “prontidão” seria um estado de preparação para fazer atividade física da forma mais correta possível, visando obter os melhores resultados. Também poderíamos interpretar tal condição como a capacidade de ter inciativa própria para mudar os hábitos e persistir na nova rotina.

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    Essa noção, embasada na teoria da autodeterminação, basicamente leva em conta se o indivíduo está verdadeiramente motivado para alterar sua vida e praticar exercícios, encontrando prazer ou satisfação no processo e nos ambientes para essa finalidade, sem receio de críticas ou comentários e comparações negativas.

    Em conclusão, e tendo em vista a questão do engajamento, é importante que pessoas que já vivenciaram um infarto ou convivem com doenças cardíacas sejam estimuladas e orientadas a fazer atividade física regularmente. A segurança é garantida quando isso é feito com acompanhamento profissional, exames de rotina e respeito aos limites de cada um.

    O saldo é positivo, e o coração agradece.

    * Edmo Atique Gabriel é cardiologista e cirurgião cardiovascular e professor e coordenador do curso de medicina da Unilago (União das Faculdades dos Grandes Lagos), em São José do Rio Preto (SP)

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