Chocolate, pizza, hambúrguer, batata-frita: não é incomum que as pessoas sintam uma fixação por comidas desse tipo. Em geral, elas são hiperpalatáveis, ricas em gordura e açúcar adicionado. Mas de onde vem o desejo por elas?
Sentir aromas, captar pistas visuais e, em alguns casos, até ouvir alguém falando de algum alimento… Tudo isso já é capaz de aguçar os sentidos e fazer a boca salivar.
No caso da comida, nossos sistemas sensoriais acionam os caminhos motivacionais ou de recompensa no cérebro, o que envolve a dopamina, um neurotransmissor crucial para a motivação e o prazer.
O problema é que viver com muitos efeitos dopaminérgicos pode ter impactos negativos, dependendo do equilíbrio e da intensidade dessa descarga, com consequência na dessensibilização ao prazer, desregulação emocional e desafios no controle do apetite.
A exposição a sinais relacionados a alimentos pode aumentar a frequência cardíaca, a atividade gástrica e a salivação, bem como um padrão de respostas em várias vias no cérebro associadas à recompensa.
Mas isso não quer dizer que um desejo deve, de fato, ser efetivado. Desejos não são a mesma coisa que fome e podem ocorrer sem estímulos, como quando as pessoas se privam de um alimento que seu cérebro identifica como gratificante e elas não conseguem parar de pensar nisso.
Essas vias de recompensa estão conectadas às regiões de tomada de decisão em nosso cérebro. Uma parte do órgão, localizada atrás da testa, acrescenta o conceito de valor. O cheiro de um bolo de chocolate pode ter ‘alto valor’ porque comê-lo será recompensador.
A recompensa é um sinal biológico poderoso, mas precisamos aprender a domá-lo. E não é incomum que as pessoas criem um feedback positivo com relação à comida.
Se a fixação pela comida bate à porta, procurar realizar outras tarefas pode ajudar. Outra estratégia é entender e ‘abraçar’ o sentimento, mas sem dar continuidade à ação. Com o tempo, o cérebro responderá de outra forma e o desejo diminui.
A parte do cérebro que agrega valor e está vinculada ao sistema de tomada de decisão também recebe informações das áreas envolvidas com a cognição. Então, podemos dizer que a escolha de seguir em frente ou não passará por nossa capacidade racional.
De qualquer forma, é importante reduzir a exposição a estímulos alimentares – principalmente dos alimentos hipercalóricos. O ideal é ter menos contato e menos acesso a alimentos altamente tentadores que não são uma parte saudável da dieta. Quem não resiste a um chocolate não deveria comprar caixas e caixas da guloseima para deixar em casa.
Pergunte-se: o desejo é tão forte que te faria levantar do sofá e ir ao mercado a pé para comprar esse alimento? Na maior parte das vezes, só adicionar um obstáculo já é suficiente para frear o impulso.
A maioria das calorias é consumida em casa. Se você não tem acesso fácil aos alimentos que mais deseja, não precisará usar tanta força de vontade para resistir a eles.
* Deborah Beranger é endocrinologista, com pós-graduação em metabologia pela Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro e habilitação em medicina culinária pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp)