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Como estão seus rins? A resposta vai impactar a saúde no Brasil

Aumento nos casos de doença renal, motivado por fatores de risco comuns na população, traz preocupações nas esferas individual e coletiva

Por Bruno Zawadzki*
30 out 2024, 10h24
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  • Como estão os seus rins? Essa não é uma pergunta que as pessoas estão acostumadas a ouvir. A menos que tenham algum problema ligado a esses órgãos, a saúde renal dificilmente será uma preocupação que influenciará os hábitos de vida da pessoa. Mas deveria.

    Em apenas dez anos, a doença renal crônica registrou um salto de 57,6% entre os brasileiros, levando quase 155 mil pessoas a precisarem de hemodiálise. A doença consiste no comprometimento, total ou parcial, da função dos rins. Eles perdem a capacidade de filtrar o sangue, gerando acúmulo de toxinas e líquido, com risco de gerar um colapso potencialmente fatal.

    Quando a doença se instala, o processo é irreversível. O tratamento pode ser realizado por dois caminhos – transplante ou hemodiálise. Os transplantes estão em alta, com mais de 6.200 procedimentos em 2023, um crescimento de 113% em 10 anos. Mesmo assim, não dão conta da demanda. Atendem a menos de 5% dos pacientes com doença renal. Para a grande maioria, o tratamento consiste nas sessões de diálise.

    Habitualmente, são três por semana com duração em torno de quatro horas cada, em que o paciente tem o sangue filtrado com auxílio de maquinário médico específico. Como os rins não se recuperam, o tratamento é contínuo, tornando necessária adequações na vida pessoal e profissional.

    Mas a questão vai muito além dos rins. A crescente incidência da doença renal crônica nos últimos anos reflete algo mais estrutural, que desafia sistemas de saúde em todo o mundo. Ela é fruto do aumento expressivo e consistente dos principais fatores de risco para a doença renal crônica. Quais? Excesso de peso e obesidade, diabetes, hipertensão arterial e idade avançada.

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    O excesso de peso atinge 56,8% dos brasileiros, segundo levantamento da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) em parceria com a organização global de saúde pública Vital Strategies. Já o diabetes acomete 10,2% da população, segundo o Vigitel 2023, com alta de um ponto percentual em apenas dois anos. A hipertensão, por sua vez, está diagnosticada em pelo menos 27,9% dos brasileiros, também segundo o Vigitel 2023.

    Idade avançada aumenta o risco para diabetes e hipertensão. E a população brasileira está envelhecendo. O total de pessoas com 65 anos ou mais no país chegou a 10,9% da população, com alta de 57,4% em 10 anos. No total, são mais de 22 milhões de idosos. Não por acaso, existe relação entre os fatores de risco – um reforça e potencializa o outro.

    Entre idosos, a prevalência do diabetes chega a 26%, mais de duas vezes e meia o percentual da população em geral. A hipertensão também aumenta em proporção semelhante, chegando a 62,5%.

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    Para agravar ainda mais o cenário da saúde renal, existem outros fatores de risco sendo considerados na equação. Recentemente, um estudo da Universidade de São Paulo (USP), em parceria com a Universidade de Amsterdã, nos Países Baixos, investigou o impacto da poluição atmosférica nos rins. Foi analisada a influência da emissão de carbono negro e monóxido de carbono. Embora o trabalho tenha sido feito com animais, os resultados trazem um novo alerta importante.

    Diante de todo esse cenário, a solução não é simples. O aumento da doença renal crônica e seus fatores de risco é fruto de hábitos de vida que precisam mudar. Boa alimentação, exercícios regulares, controle de peso, acompanhamento médico adequado para controle de condições como diabetes e hipertensão, envelhecimento saudável, check-ups de rotina… Tudo precisa ser contemplado para reverter tal avanço.

    A conscientização em torno da saúde renal precisa estar na agenda de todos, desde a pessoa atenta ao cuidado com o próprio bem-estar até os gestores da saúde, nos âmbitos público e privado, com a elaboração e manutenção de iniciativas eficientes, alinhadas aos desafios vigentes e tendências.

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    Só assim vamos construir um novo cenário para a saúde no Brasil, em que seja possível a todos responder de maneira positiva à pergunta que abre este artigo: meus rins estão bem, eles fazem parte do meu cuidado com a saúde.

    * Bruno Zawadzki é nefrologista, com MBA em gestão de saúde pela FGV e diretor médico nacional da DaVita Tratamento Renal

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