Até 2050, a Organização Mundial da Saúde (OMS) estima um aumento de 77% nos casos de câncer em países em desenvolvimento — o Brasil está entre eles — e o crescimento de 60% em todo o globo. Logo, será a doença mais letal do mundo. Aproveito este 8 de abril, que marca o Dia Mundial da Luta contra o Câncer, não apenas para trazer dados alarmantes, mas especialmente para enfatizar os relevantes e promissores avanços da ciência para o tratamento de diferentes tipos de tumores com drogas inovadoras, além de condutas e alternativas de terapias cada vez mais personalizadas e individualizadas. Elas não só têm mostrado aumento nos índices de cura: estão impactando, de forma positiva, a qualidade de vida dos pacientes em todas as etapas da jornada de cuidado.
Diante deste cenário, análise genômica é palavra de ordem quando falamos de evolução no tratamento do câncer. O desenvolvimento dos estudos envolvendo o genoma humano, código genético presente nas células e de forma única em cada indivíduo, se tornou indispensável em diversas áreas da medicina, entre elas a oncologia, que vem se beneficiando tanto na precisão diagnóstica quanto na eficácia do tratamento.
Entre os “divisores de águas” na luta contra o câncer, há exemplos diversos já em aplicação. Temos novidades que têm se mostrado bem sucedidas nos meio médico e científico, como a imunoterapia e o tratamento com anticorpos monoclonais. Na linha de terapias inovadoras, destaco aquela que atualmente é considerada o maior avanço global em métodos de tratamento de neoplasias hematológicas, o CAR-T. O tratamento consiste em usar células do próprio paciente e modificá-las geneticamente em laboratório para combater o câncer.
Assim, se tornou possível habilitar células de defesa do corpo com receptores capazes de reconhecer o tumor e atacá-lo de forma contínua e específica. Nos Estados Unidos e na Europa já existe uma gama de produtos comercialmente disponíveis, já no Brasil os primeiros medicamentos para esse tipo de terapia com autorização de registro e aplicação aprovados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) começaram a ser liberados no último trimestre de 2022.
Da mesma maneira, exames que ajudam a detectar o perfil molecular de tumores como de pulmão, intestino, mama e próstata também têm se mostrado importantes aliados no controle da condição por proporcionar maior precisão e melhor qualidade no diagnóstico, fundamentais para uma definição exata do tratamento. Isso porque, apenas conhecendo as células malignas de forma certeira o profissional de saúde conseguirá especificar o melhor tratamento para aquele caso.
Neste universo de amplos avanços científicos, a patologia digital é outro forte aliado dos oncologistas, por unir inteligência artificial, big data e conhecimento médico altamente especializado para gerar análises ainda mais claras para um diagnóstico assertivo. A transformação digital e implementação de ferramentas de inteligência computacional vêm se mostrando altamente efetivas na redução do tempo de detecção de casos e indicação de melhores linhas de cuidado a serem adotadas para cada paciente.
O conhecimento cada vez maior de como as células cancerígenas funcionam em cada tipo de organismo foi o avanço necessário para implementar outros tratamentos que têm revolucionado a oncologia. E não estamos projetando apenas o futuro a curto e médio prazos. A já citada imunoterapia, celebrada no Prêmio Nobel de Fisiologia e Medicina de 2018, que tem o objetivo de potencializar o sistema imunológico do indivíduo para combater o câncer, já faz parte do rol de alternativas usadas na prática terapêutica que vem apresentando resultados muito significativos para diversos tumores, especialmente melanoma, pulmão, colo de útero, endométrio, alguns tipos de câncer de mama e cânceres de cabeça e pescoço.
A conhecida quimioterapia também passa por constantes transformações, com reforço da combinação com outros medicamentos. Um exemplo são as terapias conjugadas de diferentes opções de quimioterápicos com anticorpos monoclonais, que vem ganhando considerável espaço na oncologia por levar a quimioterapia diretamente para a célula cancerígena, focando o tratamento apenas nela, diminuindo a toxicidade para o organismo ao mesmo tempo que aumenta a efetividade do tratamento.
É importante, contudo, frisar que temos cada vez mais ferramentas para tratar o câncer, mas que para alcançar bons resultados com essas terapias, um fator é primordial: conhecer profundamente o tipo de câncer e as características de cada paciente e cada célula, para atingir a doença com mais precisão.
* Carlos Gil Ferreira é oncologista, diretor médico da Oncoclínicas e presidente de honra da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC)