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Câncer de mama, várias doenças em uma

O câncer de mama se divide em subtipos ; cada um deles requer um tratamento específico

Por Marianne Pinotti
19 out 2018, 12h23
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  • Todos os anos em outubro, mês que vem se colorindo de rosa nos últimos tempos, vários colegas publicam neste espaço ótimos artigos que chamam a atenção para uma das doenças que mais preocupam as mulheres de todo o planeta: o câncer de mama. Como mulher, médica e mastologista eu não poderia deixar de fortalecer esta corrente!

    A maioria das pessoas desconhecem a complexidade desta doença. O câncer de mama apresenta muitas variantes e, graças a pesquisas mundiais, os tratamentos são cada vez mais individualizados com processos menos agressivos e maiores possibilidades de cura. Passamos de uma lógica de “máximo tratamento tolerado”, que predominou no século passado,  para “mínimo tratamento necessário”. Esta mudança foi possível graças aos trabalhos do pesquisador italiano que revolucionou a história do câncer de mama, Prof. Umberto Veronesi, de quem eu e meu pai, Dr. Pinotti, tivemos a sorte e a honra de sermos alunos.

    Uma questão na qual meus mestres insistiam é que as mulheres cada vez mais se informassem sobre a doença e seu tratamento, para que, desta forma, pudessem participar ativamente das decisões a serem tomadas. Pensando nisso, decidi escrever sobre uma área altamente complexa, que é a genética do câncer de mama.

    Tumores de mama

    Tradicionalmente, dividíamos os tumores de mama em estágios clínicos, de acordo com seu tamanho, presença de linfonodos (gânglios) axilares contaminados pelas células tumorais e, por fim, a presença ou não de doença à distância (metástases). Baseados nisso, indicávamos o tratamento cirúrgico e os complementares.

    Com o passar das décadas, novas relações foram se criando. A primeira delas com a presença de receptores hormonais no tumor e a possibilidade de uso de remédios que bloqueiam a ação hormonal, como o tamoxifeno. Mais tarde, marcadores de proliferação celular que trazem informações biológicas e, por fim, alterações no ciclo celular como o marcador HER-2/neu, que, atualmente, pode ser controlado através de remédio específico (trastuzumab).

    Classificação genética

    O que existe de mais moderno é a classificação genética do câncer de mama, também chamada de molecular, que se divide em 5 subtipos, conforme as mutações do DNA, alterações no padrão de transcrição do RNA e/ou presença de efeitos epigenéticos.

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    Cada um dos tipos possui características biológicas e de proliferação distintas, que requerem tratamento específico, seja do ponto de vista cirúrgico, radioterápico, quimioterápico e hormonioterápico e/ou imunológicos, além das novas “terapias-alvo”. De forma bastante simples, explico cada um dos tipos:

    1. LUMINAL ‘A’: origina-se nas células dos ductos mamários e expressa receptores hormonais. Não tem amplificação do gene HER-2  e apresenta baixo índice de proliferação celular. Possibilidade de tratamento com bloqueadores hormonais.
    2. LUMINAL ‘B’: carcinoma igualmente originário do epitélio ductal e também expressa receptores hormonais, contudo o índice de proliferação celular é maior. É negativo para HER-2 e apresenta possibilidade de tratamento com bloqueadores hormonais.
    3. HER2 amplificado (ou enriquecido): se caracteriza por apresentar amplificação (aumento do número de cópias) do gene. Costumeiramente, essas lesões são negativas para receptores hormonais e têm resposta clínica quando tratados com anticorpo anti-Her2 (trastuzumab).
    4. BASAL: este tipo de tumor supostamente se origina das células “basais” dos ductos mamários. São HER-2 negativos, não expressam receptores hormonais e o único tratamento sistêmico eficiente é a quimioterapia.

    Números de casos

    Ao olharmos as estatísticas no Brasil e no mundo enxergamos que, apesar dos avanços no tratamento e diagnóstico, o câncer de mama ainda é um grave problema de saúde, com 1.384.155 novos casos esperados em todo o mundo e um estimado 459.000 mortes no ano de 2017. Além disso, tanto a incidência quanto a mortalidade relacionada aumentaram em 18% desde 2008. Estima-se que atingiremos 3,2 milhões de novos casos em 2050; no Brasil não é diferente. O Instituto Nacional de Câncer (INCA) estimou  57.960 novos casos em 2018, com 14.388 mortes.  

    Muitas possibilidades novas de tratamento e melhora na qualidade de vida e sobrevida foram surgindo e já conseguimos saber “quase tudo” sobre nosso inimigo, o que nos permite usar as melhores armas disponíveis para vencê-lo. É fundamental, porém, que o diagnóstico seja precoce, por isso a importância do exame de mamografia anual para todas as mulheres a partir dos 40 anos.

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    Um diagnóstico preciso é essencial para aumentar as possibilidade de cura, mas é igualmente importante que nós, mulheres, nos apropriemos desses conhecimentos para que sejamos capazes de discutir com nossos médicos ou médicas quais os tratamentos mais adequados.  

     

    Dra. Marianne Pinotti

     

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