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As perspectivas em cardiologia para evitar uma tragédia epidemiológica

Cerca de 400 mil pessoas morrem de infarto do miocárdio por ano no Brasil, mas os avanços da IA e genética são boas notícias para diagnósticos e tratamentos

Por Jadelson Andrade*
Atualizado em 9 Maio 2024, 18h44 - Publicado em 7 dez 2023, 13h01

As estatísticas mostram um cenário preocupante para a cardiologia no Brasil: 14 milhões de brasileiros têm alguma doença cardiovascular, e 300 a 400 mil pessoas morrem todos os anos em consequência de infarto agudo do miocárdio. E em 2023, um levantamento do Instituto Nacional de Cardiologia mostrou que, entre 2008 e 2022, o número de internações por infarto aumentou no Brasil, entre homens e mulheres, cerca de 150%.

Diante desse grave problema de saúde pública, passa a ser um imenso desafio desenvolver programas efetivos de prevenção e tratamento de doenças cardiovasculares, que nos permitam reduzir esses elevados e crescentes índices de morbimortalidade. Consideramos primordial encontrar os caminhos para alavancar os programas de prevenção para controle dos fatores de risco dessas doenças, além de investir em maior disponibilização de métodos de diagnóstico precoce e melhores formas de tratamento.

Os principais fatores de risco para a ocorrência das doenças do coração são bem conhecidos e incluem a dislipidemia, a hipertensão arterial, o diabetes, a obesidade e o tabagismo. Medidas de prevenção, com estímulo à adoção de hábitos saudáveis, incluindo alimentação balanceada e a prática de atividades físicas regulares, associadas ao diagnóstico precoce e tratamento efetivo de agravos que comprometem a saúde cardíaca, são de responsabilidade de toda a sociedade e têm significativo impacto na ocorrência das doenças cardiovasculares.

Uma vez que a doença já esteja estabelecida, ainda é possível instituir medidas de prevenção secundária para a redução de novos eventos, como infarto, acidente vascular cerebral (AVC) e morte. Mas, infelizmente, ainda vemos uma dificuldade do sistema em atuar precocemente de forma otimizada e grande heterogeneidade entre os serviços públicos e privados do país.

IA e genética: aliados do coração

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Por outro lado, observamos com entusiasmo o desenvolvimento de avançados métodos de diagnóstico de imagem (a exemplo da angiotomografia de artérias coronárias e da ressonância cardíaca), com a incorporação da inteligência artificial (IA) e o desenvolvimento de painéis de risco genéticos, que permitem identificar ainda mais precocemente a população suscetível.

Temos ainda grandes apostas nos projetos de navegação, também alicerçados pela IA, que conectam a equipe multiprofissional de saúde com pacientes e familiares e permitem agilizar o tempo entre a solicitação dos exames, sua interpretação e conduta.

No quesito tratamento medicamentoso, também somos privilegiados pelo grande volume de pesquisas clínicas dedicadas à área da cardiologia, que vem permitindo a incorporação de terapêuticas cada vez mais eficientes e com impacto na redução dos desfechos em graves doenças cardiovasculares, desde as incomuns como a amiloidose cardíaca e a cardiomiopatia hipertrófica na forma obstrutiva – que pela primeira vez, têm tratamentos específicos aprovados para o uso – até doenças frequentes, como a insuficiência cardíaca, que, hoje, conta com novas opções de medicamentos que melhoram seu ainda difícil prognóstico.

Aliadas do tratamento medicamentoso, as intervenções percutâneas de doenças estruturais (a exemplo das doenças valvulares e da comunicação interatrial), que, até pouco tempo atrás, só tinham como opção a cirurgia cardíaca convencional, hoje, são passíveis de tratamento em populações de alto risco, por meio de procedimentos menos invasivos, com excelentes resultados.

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O diagnóstico preciso e o tratamento da doença arterial coronariana obstrutiva complexa de alto risco, condição muito frequente em nossa população e a principal causa de infarto agudo do miocárdio e morte cardiovascular, passaram por grande revolução com o avanço dos procedimentos percutâneos e, no presente, são formas preferenciais de recursos terapêuticos em todo o mundo.

Quando pensamos no que o futuro nos reserva na cardiologia, entendemos que isso depende, fundamentalmente, de como cumpriremos esses desafios que estão lançados. Como tarefa principal, precisamos, como sociedade, priorizar as medidas de promoção de saúde, assegurando o cumprimento da prevenção (incluindo primordial, primária e secundária). E em paralelo, com grande importância, continuar investindo em inovação para diagnóstico e tratamento, e assim, trabalhando junto com os demais segmentos (público e privado) para que todos esses avanços se tornem disponíveis para a população-alvo, assegurando equidade com eficiência em todos esses processos.

*Jadelson Andrade é médico cardiologista, ex-presidente e atual membro do Conselho Consultivo da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), diretor de Cardiologia dos hospitais Dasa e Fellow na American College of Cardiology e European Society of Cardiology

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