As novidades contra o mais agressivo tumor de pele
Uma nova geração de remédios apresenta resultados animadores no combate do melanoma
O reinício do verão sempre nos remete aos cuidados com a exposição à luz solar e, especialmente, ao risco de câncer de pele. Por isso, não podemos deixar de falar sobre um dos tumores mais importantes: o melanoma.
Embora menos frequente, o melanoma configura entre os cânceres de pele mais graves devido à sua maior chance de se disseminar pelo corpo e se alojar em outros órgãos. Por outro lado, a ótima notícia é que o seu tratamento evoluiu muito na última década com o desenvolvimento da imunoterapia e da terapia-alvo.
A imunoterapia é uma modalidade de tratamento que estimula a ação do sistema imune, permitindo que este reconheça e combata as células do tumor. São exemplos os medicamentos ipilimumabe, nivolumabe, pembrolizumabe e relatlimabe.
Já a terapia-alvo atua de forma direcionada contra alvos específicos presentes nas células do câncer, como o BRAF e MEK no melanoma. Porém, ela somente está indicada nos pacientes cujo tumor tenha uma mutação do gene BRAF identificada por meio de uma biópsia. Existem disponíveis as combinações de vemurafenibe e cobimetinibe, dabrafenibe e trametinibe e encorafenibe e binimetinibe.
Tanto a imunoterapia quanto a terapia-alvo já estão bem consolidadas na doença avançada, quando há acometimento de outros órgãos além da pele (o que chamamos de metástase à distância). Neste caso, salvo algumas exceções, a preferência inicial de tratamento é a imunoterapia, geralmente com a associação de ipilimumabe e nivolumabe, ou nivolumabe ou pembrolizumabe isolados. A imunoterapia tem potencial de cura da ordem de 30 a 50% dos casos, a depender do volume doença e sítios de metástases.
Diante desse grande progresso, essas estratégias de tratamento recentemente vêm sendo antecipadas para uso na doença mais localizada, com o objetivo de impedir o surgimento de alguma metástase e aumentar a chance de cura. Assim, nos pacientes que apresentam somente uma lesão de pele mais superficial, o prognóstico é bem favorável e por isso realiza-se apenas a cirurgia, sem necessidade de terapias adicionais. Já naqueles que têm uma lesão de pele com acometimento mais profundo, pode-se considerar o uso de pembrolizumabe preventivo (adjuvante) após a retirada da lesão.
Existem ainda pacientes com um melanoma de maior risco, cuja doença acomete os gânglios próximos à lesão inicial ou se dissemina ao longo da própria pele (metástase in transito). Nestes casos, quando o paciente já foi operado, deve-se considerar tratamento preventivo (adjuvante) com imunoterapia (pembrolizumabe ou nivolumabe) ou com terapia-alvo (dabrafenibe e trametinibe), se houver mutação do gene BRAF.
Recentemente, contudo, uma estratégia ainda mais promissora vem se consolidando nesse cenário: aplicar a imunoterapia antes da cirurgia, o que é conhecido como tratamento neoadjuvante. Desta forma, o paciente recebe a combinação de nivolumabe e ipilimumabe por apenas duas aplicações, seguido da cirurgia. Após, a necessidade ou não de tratamento adicional depois da cirurgia irá depender do grau de resposta obtida com a imunoterapia.
Essa abordagem neoadjuvante possui uma alta eficácia e permite reduzir o tempo e a toxicidade do tratamento em grande parte dos pacientes, tornando-se cada vez mais a conduta de preferência nesse contexto.
Todas essas opções de tratamento nos permitem constatar que o manejo do melanoma vem evoluindo gradualmente nos últimos anos, com desenvolvimento de terapias cada vez mais eficazes, resultando em cura mesmo para pacientes com doença avançada.
Apesar dessa importante evolução, devemos ter consciência de que a melhor estratégia no combate ao melanoma ainda é a sua prevenção, sendo muito importante a adoção de cuidados básicos no dia-a-dia para reduzir a exposição ao sol ao longo do ano todo, desde a infância. Esses cuidados ajudarão na prevenção não somente do melanoma, mas também dos outros tumores de pele.
Com a colaboração de Jéssica Ribeiro Gomes, oncologista formada em Medicina pela Universidade Federal do Espírito Santo, com Residência em Oncologia Clínica pela BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo. Médica com Pós-Graduação em Gestão de Negócios em Saúde pela FGV (Fundação Getúlio Vargas). Atualmente é Oncologista Clínica na Rede Meridional / Kora Saúde (ES).