Além de fazer mal para o organismo, uma dieta de baixa qualidade pode trazer prejuízos à saúde mental. Um novo estudo que analisou a influência da alimentação na química e na estrutura cerebral sugere que um padrão desequilibrado contribui para alterações associadas à depressão e à ansiedade.
Mas o que explicaria tal correlação? Mudanças nos neurotransmissores e no volume de algumas áreas da massa cinzenta. Na prática, as observações estão associadas à ruminação mental – a cadeia de pensamentos repetitivos de caráter negativo -, parte dos critérios diagnósticos para condições que afetam o bem-estar emocional.
O trabalho, feito pela Universidade de Reading, na Inglaterra, comparou pessoas que têm uma dieta pobre em termos nutricionais (rica em açúcares simples e gordura saturada) em comparação com aquelas que aderem a uma dieta de estilo mediterrâneo, que é considerada bastante saudável.
Quando alguém segue um padrão alimentar de má qualidade, há redução nos níveis de ácido gama-aminobutírico (GABA) e aumento de glutamato, ambos neurotransmissores, juntamente com a redução do volume de massa cinzenta na área frontal do cérebro. É como se o cérebro ficasse mais suscetível a ansiedade e depressão.
Os neurotransmissores têm atividade excitatória ou inibitória e, quando há um descompasso nesses efeitos, há uma maior predisposição a sofrimentos e transtornos mentais. O GABA é o principal neurotransmissor inibitório do sistema nervoso central, enquanto a atividade excitatória vem principalmente do glutamato.
É interessante pontuar que isso pode criar uma relação circular perigosa, prejudicando as próprias escolhas alimentares, além de dificultar o tratamento de condições como obesidade e depressão. Muitos estudos já mostraram que o GABA e o glutamato também estão intimamente envolvidos no apetite e na ingestão de alimentos. A redução do GABA e/ou o aumento do glutamato também pode ser um fator determinante nas escolhas pouco saudáveis.
Além disso, padrões alimentares ricos em gorduras saturadas e açúcares simples provocam alterações distintas no microbioma intestinal, com um impacto na maquinaria celular que impulsiona a produção de GABA e glutamato pelo cérebro. Fora que propiciam modificações na membrana das células, o que repercutiria na atividade dos neurotransmissores e dos neurônios.
Portanto, as escolhas à mesa devem ser bem conduzidas tendo também em vista suas consequências para o bem-estar emocional. Inclusive porque elas podem alimentar um círculo vicioso capaz de resultar em ganho de peso, tristeza e ansiedade.
* Marcella Garcez é médica nutróloga, diretora da Associação Brasileira de Nutrologia (ABRAN), membro da Câmara Técnica de Nutrologia do Conselho Regional de Medicina do Paraná e pesquisadora do Serviço de Nutrologia do Hospital do Servidor Público de São Paulo