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Professor, advogado e militante do movimento negro, ele é o reitor da Faculdade Zumbi dos Palmares, em São Paulo, instituição pioneira de ensino no Brasil que ajudou a fundar em 2004.
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A votação histórica que criou o feriado nacional para Zumbi dos Palmares

Com 135 anos de atraso, o país promove o resgate e homenageia de forma justa e indelével esse grandioso personagem

Por José Vicente
30 nov 2023, 10h26

A aprovação pelo Congresso Nacional designando feriado nacional o dia 20 de novembro em memória ao líder negro Zumbi dos Palmares tornou a noite da última quarta-feira de novembro como a noite mais longa na busca e alcance da Justiça e do reencontro do povo brasileiro com esse herói nacional. Com 135 anos de atraso, o país promove o resgate e homenageia de forma justa e indelével esse grandioso personagem.
Foi nos quilombos e, sobretudo, no quilombo de Zumbi dos Palmares, que negros e brancos enfrentaram e combateram coletivamente a opressão e a subjugação do homem pelo homem. Foi ali também que iniciaram o processo de construção de uma pátria de livres e iguais. Nos quilombos todos tinha acesso a terra e podiam plantar colher. Eram autônomos e independentes para ir, vir e permanecer e todos tinham a garantia sua integridade física e de sua segurança. Todos se confraternizam, cooperavam de forma fraterna e conviviam juntos, sem discriminação de raça e de cor.
Os quilombos de ontem e os milhares quilombos que se espalham pelo Brasil até os dias de hoje são a prova viva desse primeiro projeto de povo libertário em que a diferença nunca se constituiu em obstáculo. Pelo contrário, foi força criativa e transformadora, cuja energia e grandiosidade delineou as fisionomia do gigante pela própria natureza e as primeiras linhas genuína da civilização brasileira: um povo miscigenado, de luta , de garra, trabalhador, criativo, alegre, solidário e defensor dos valores da dignidade.

A HERANÇA RACISTA
Foi o racismo operado como instrumento de dominação politica e econômica que tentou de todas as formas definir o negro como inferior ao branco e depois excluí-lo e apartá-lo da participação e usufruto das riquezas e benefícios sociais construídos coletivamente. Fez isso com o beneplácito do Estado e muitas vezes com a cumplicidade e participação direta dele, seja impedindo e cerceando seus movimentos sociais, seja apagando sua história, seja demonizando e vilipendiado sua cultura, sua estética e seus deuses. Seja transformando seus heróis vívidos e gloriosos, em rebeldes sem causa, párias históricos e marginais e criminosos sociais.
Mas foi o sentido dessa gênese, sobretudo, sua correção, sua justiça e mesmo sua verdade ancestral que forneceu o combustível e a energia da luta de reconstrução e ressignificação dessa trajetória e dessa essência imemorial. Foi a luta do movimento negro fortalecido pelos brancos e demais aliados que resgataram Zumbi dos Palmares do limbo da história oficial para reconstituí-lo como o herói de todos, cuja bravura, coragem e sentido de justiça e de luta ecoavam em todos os cantos do país e orgulhavam os negros e todas as pessoas que tinham sede de justiça.
Recuperado e transformado com justiça e generosidade pelo povo brasileiro como herói nacional e tornado o dia do aniversário da sua morte em feriado e dia de celebração em milhares de municípios, estados e capitais, restava apenas a grandeza de espírito para tornar esse dia numa grande, festivo e colorido feriado nacional.
Na noite de ontem o Congresso se agigantou e esteve à altura das convicções, dos desejos, dos sentimentos e da vontade geral do povo brasileiro. Em termos simbólicos, devolveu o país para todos e vai permitir que caminhemos de mãos dadas para continuarmos construindo uma grande nação que reconhece e valoriza a luta, a história, a contribuição dos negros; que acolhe e reverencia a contribuição e participação de todos e que celebra com honra e generosidade o herói negro e de todos brasileiros Zumbi dos Palmares. Viva o negro , viva o branco, viva o povo brasileiro!


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