Jair Bolsonaro e líderes dos partidos que o apoiam ainda não chegaram a um acordo sobre a candidatura à vice-presidência na disputa pela reeleição.
Bolsonaro quer um general aposentado, e não perde oportunidade de citar Walter Braga Netto, que entrou no Partido Liberal e trocou o posto de ministro da Defesa pelo crachá de “assessor especial” da presidência à espera da indicação.
Líderes dos partidos Progressistas (PP), Liberal (PL) e Republicanos (PR) tentam convencer Bolsonaro a escolher um civil, profissional da política e com capacidade de agregar segmentos do eleitorado muito além dos muros dos quartéis.
O impasse tem levado o candidato do PL a repetir em público que há “90% de chance” do ex-ministro ser o seu candidato a vice-presidente.
O problema está nos “10%” de desentendimentos. Eles se multiplicaram na esteira das exóticas compras militares garimpadas pelo deputado Elias Vaz (PSB-GO) no estuário de licitações divulgadas no Portal da Transparência e no Painel de Preços do governo federal.
Com Braga Netto no Ministério da Defesa as Forças Armadas compraram 35.320 comprimidos de Viagra. As dosagens encomendadas (25 e 50 miligramas) são incomuns em terapia de hipertensão pulmonar mas adequadas à disfunção erétil.
A maior parte (97,7%) da carga farmacêutica foi destinada à Marinha, onde a maioria do efetivo (69 mil praças e 11 mil oficiais), certamente, não precisa.
O governo Bolsonaro preserva a herança de estranhos hábitos de consumo. Gasta R$ 32 milhões por ano em pizza e refrigerante; R$ 2,2 milhões em chicletes, e, R$ 1 milhão em pipoca, entre outros.
Se a lista de compras governamentais já era extravagante, ganhou moldura burlesca com os estimulantes na farmácia das Forças Armadas durante a gestão Braga Netto na Defesa.
Ontem, em Brasília, a vulnerabilidade da candidatura do general aposentado à vice de Bolsonaro era celebrada por seus adversários no governo, nos partidos que conduzem a campanha de reeleição e, também, pela oposição no Congresso.
Avançam entendimentos sobre investigações na Câmara e no Senado. E não só pelos comprimidos de Viagra. Incluem, também, decisões consideradas questionáveis na sua passagem pela segurança pública no Rio (no governo Michel Temer), pelo Estado Maior do Exército e pela Casa Civil de Bolsonaro, no primeiro ano da pandemia, antes de ocupar a Defesa. Braga Netto está em campo minado.