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Informação e análise
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Simone Tebet: “Sei o que é assédio sexual, conheço a dor, a alma ferida”

Depoimento

Por José Casado Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 1 jul 2022, 11h13 - Publicado em 1 jul 2022, 11h00

Assédio sexual deixa ferida indelével. Os casos na Caixa Econômica Federal, revelados nesta semana pelo repórter Rodrigo Rangel, do portal Metrópoles, levaram a senadora Simone Tebet, candidata presidencial do MDB, a interromper uma votação no Senado para manifestação de solidariedade às funcionárias abusadas pelo ex-presidente do banco estatal, Pedro Guimarães.

Ela surpreendeu ao expor, no plenário, a memória da dor íntima, silenciosa, de uma vítima de assédio sexual no trabalho em empresa privada: Simone Nassar Tebet.

Eis o seu relato:

“Eu sei o que é assédio sexual. É algo que o tempo não apaga, é uma ferida que não cicatriza. Lamentavelmente, quase metade das mulheres brasileiras são vítimas de assédio sexual. E é importante explicar o que é: é quando alguém, do alto do seu poder, assedia sexualmente, constrangendo na tentativa de obter favores sexuais, um subordinado. Nós não estamos falando de um igual para um igual.

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“É algo que o tempo não apaga. É como o que aconteceu comigo, ou com outras mulheres”

Repito: eu sei e eu conheço essa dor. Então, quando a gente está diante de um caso como esse [na Caixa Econômica Federal], escabroso, que tem indícios sérios, que tem áudios, que tem vídeos, que tem denúncias, nós estamos diante de um caso para o qual é preciso ter uma reação (…)

[É] como o que aconteceu comigo, ou com outras mulheres (…) e não são poucos [os casos] de mulheres que têm de escolher, de fazer a triste escolha de colocar comida na mesa para os seus filhos ou tentar preservar a sua integridade física, psicológica e moral (…)

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“Eu não estou tratando de uma questão simples. Servidoras do Senado já sofreram esse tipo de assédio, senadoras já sofreram”

Eu não estou tratando de uma questão simples. É uma questão séria, é uma questão que mancha a imagem da mulher brasileira.

Há um dado que dá conta de que apenas 15% das mulheres [entre vítimas assédio moral e sexual no trabalho] pedem demissão. Porque elas têm um problema: elas precisam sustentar as suas famílias.  Isso quando, na realidade, quem tem de ser colocado para fora [do emprego] é o agressor (…)

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Servidoras do Senado Federal já sofreram esse tipo de assédio (…) Senadoras da República já sofreram, não como senadoras, mas quando começaram a sua vida profissional, esse tipo de assédio sexual (…)

“Eu não tive coragem de dizer para o meu pai. Quantas senadoras, e algumas —  eu sei que sofreram assédio sexual — não tiveram coragem?”

Eu faço um desafio a qualquer um dos senadores: vão agora para os seus gabinetes e perguntem para as suas assessoras e para todas as funcionárias se tem pelo menos uma que já sofreu algum tipo de assédio sexual em sua atividade profissional. Eu garanto que uma, vossas excelências vão encontrar.

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Quando eu tinha 19 para 20 anos, eu não tive coragem de dizer para o meu pai. Quantas senadoras, e algumas —eu sei que sofreram assédio sexual — não tiveram coragem?

Eu tive que mentir para o meu pai [o ex-presidente do Senado Ramez Tebet] que eu estava saindo [de um estágio profissional] porque eu não estava satisfeita onde estava, depois de dois, três meses. Tive que escutar dele: ‘Mas, como assim? Que irresponsabilidade é essa de você, que mal começou a estagiar, estar querendo sair da sua atividade?’

Eu não sabia como dizer, eu não sabia se seria ouvida. Eu não tinha testemunhas, eu não tinha prova. A situação hoje mudou! Hoje eu me encontro aqui [no Senado] para ser a voz de quem fica calado e que perde.

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“É mais grave: a maioria das mulheres tem que fazer uma triste escolha entre alimentar os filhos ou defender sua honra e dignidade”

Deixe-me dizer, com todo o amor que eu tenho dentro do meu coração e, repito, de uma alma ferida como a das mulheres que já sofreram assédio sexual. Deixe-me dizer uma coisa,  que é mais grave: a maioria das mulheres fica no ambiente de trabalho, a maioria das mulheres tem que fazer uma triste escolha entre alimentar os filhos ou defender sua honra e  dignidade (…)

Eu não estou utilizando a tribuna [do Senado] por uma razão qualquer. Eu estou falando que metade, quase metade da população brasileira, das mulheres brasileiras sofreram, sofrem ou sofrerão algum tipo de violência ou de assédio sexual.

[A demissão de Pedro Guimarães da presidência da Caixa] não elide a necessidade de investigação rigorosa em relação às denúncias gravíssimas, sob pena de leniência, sob pena de cumplicidade.

“Vamos exigir da Câmara que aprove o projeto, que nós já aprovamos por unanimidade, para igualar os salários entre homens e mulheres”

Deixo aqui a minha palavra, para dizer às marias, às joanas e a todas as mulheres brasileiras: vocês não estão sozinhas. Vamos dar um basta à violência contra a mulher, um basta aos xingamentos contra a mulher, um basta contra a discriminação, por qualquer forma ou condição!

Vamos estimular e exigir da Câmara dos Deputados que aprove o projeto que nós já aprovamos por unanimidade [no Senado] para igualar os salários entre homens e mulheres nas mesmas profissões e nas mesmas atividades.”

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