O prêmio é de cinco milhões de dólares, o equivalente a 24 milhões de reais.
É dinheiro suficiente para comprar, licitamente, 80 quilos de ouro — metal amarelo, fulgurante, hipnótico a ponto de converter pastor em corretor de verbas do Ministério da Educação.
Não é sorteio. É recompensa oferecida pelo Departamento do Tesouro dos Estados Unidos.
Interessados podem tentar por um telefonema (00 + código da operadora + 1 + 202- 622-2050), ou por e-mail (kleptocracy_rewards@treasury.gov).
Basta apresentar informações que levem “à apreensão, retenção, confisco ou repatriação de propinas ou bens vinculados a propinas pagas” pela empreiteira Odebrecht e a petroquímica Braskem.
O governo americano segue na caça às propinas distribuídas por essas duas empresas a políticos, partidos e funcionários públicos no Brasil e, também, em outros onze países. Por ordem alfabética: Angola, Argentina, Colômbia, República Dominicana, Equador, Guatemala, México, Moçambique, Panamá, Peru e Venezuela.
Os subornos somaram um bilhão e trinta e oito milhões de dólares. Foram pagos durante quinze anos, durante os governos Fernando Henrique Cardoso (nos anos 2001 e 2002); Lula (2003 a 2010) e Dilma Rousseff (2011 a 2016). É o que dizem as duas companhias brasileiras nas confissões de culpa que registraram no Departamento de Justiça dos EUA, em dezembro de 2016.
Em reais, é montanha de dinheiro de tamanho igual ao fundo público (R$ 4,9 bilhões) criado para financiar as campanhas eleitorais deste ano. Equivale a 16,8 toneladas de ouro, pela cotação de ontem.
A Odebrecht se declarou culpada de corrupção na escala de 788 milhões de dólares — quantia suficiente para comprar 12,7 toneladas de ouro.
Já a Braskem admitiu ter repassado 250 milhões de dólares à Odebrecht para o pagamento de subornos a políticos e partidos brasileiros. Com essa dinheirama é possível comprar 4,1 toneladas de ouro.
Elas aceitaram pagar aos EUA, Brasil e Suíça multa somada de 3,5 bilhões de dólares, mais que o triplo do valor da corrupção. O acordo foi classificado pelo governo americano, na época, como “a maior resolução global de suborno estrangeiro de todos os tempos”.
No fluxo desse dinheiro de propinas foram usadas empresas de fachada, transações fora da contabilidade e contas bancárias em paraísos fiscais em uma dúzia de países, incluindo o Brasil.
O prêmio de cinco milhões de dólares (81 quilos de ouro) foi estabelecido pelo Departamento do Tesouro dos EUA com base numa lei aprovada tempos atrás que criou o Programa de Recompensas de Recuperação de Ativos da Cleptocracia.
As regras são simples. Interessados devem fornecer informações que levem o Gabinete de Terrorismo e Inteligência Financeira do Tesouro a localizar dinheiro de corrupção:
* Depositado em conta numa instituição financeira, incluindo uma sucursal norte-americana de uma instituição financeira estrangeira;
* Que esteja em trânsito para o território dos Estados Unidos;
* Que se encontre na posse ou controle de qualquer pessoa dentro dos EUA.
O programa americano para recuperação de ativos da cleptocracia está fundamentado na crença capitalista de que o dinheiro fala na linguagem compreensível em qualquer lugar — do cerrado às margens do rio Potomac, entre outras paisagens.